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Meses depois de dezenas de golfinhos do Mar Negro terem dado à costa na Turquia já sem vida, naquele que foi considerado um prenúncio do impacto ambiental da guerra na Ucrânia, outro sinal de alerta borbulhou nas águas do Mar Báltico, quando as autoridade suecas e dinamarquesas identificaram quatro fugas de gás natural, composto em quase 90% por metano, nos gasodutos de Nord Stream, entre a Rússia e a Alemanha. |
A origem das roturas por onde o gás natural está a escapar (os tubos foram reparados no Nord Stream 1, mas há evidências à superfície de que as fendas no Nord Stream 2 continuam abertas) está ainda por explicar. A jornalista Rita Pereira Carvalho explicou num Especial publicado na terça-feira passada, um dia depois de os sismógrafos e as imagens de satélite terem denunciado o incidente, as teorias em cima da mesa. |
Mas enquanto as autoridades mundiais procuram respostas sobre esta fuga de gás natural, que pode ser a maior de que há registo, os engenheiros e ambientalistas concentram-se em calcular que quantidade de metano está a subir em plumas das profundezas do Mar Báltico até à atmosfera. E que consequências pode o gás natural libertado do Nord Stream trazer para a natureza. |
Tal como o Observador explica num artigo publicado esta terça-feira, os dados não são consensuais e nem sempre batem certo. Os piores cenários antecipam que todo o gás natural armazenado nos gasodutos — parado desde que a Rússia fechou a torneira à Europa como retaliação às sanções aplicadas após a invasão da Ucrânia — pode escapar das tubagens, poluir o já massacrado Mar Báltico e espalhar-se pela atmosfera. |
Nas contas da Rede Europeia de Ação Climática, por exemplo, isso corresponderia a até 400 mil toneladas de metano. Mesmo que fossem apenas 300 mil, era o suficiente para desencadear um potencial de aquecimento global equivalente ao provocado por 25 milhões de toneladas de dióxido de carbono ao longo de 20 anos. Seria quase metade das emissões anuais registadas em Portugal. |
E, mesmo assim, a fuga de gás no Nord Stream é apenas um grão de areia entre todo o metano que é emitido pelo setor petrolífero e energético. Uma emissão de metano equivalente a 25 milhões toneladas de dióxido de carbono simboliza menos de 0,1% da poluição global anual de carbono. E, a acreditar numa estimativa que diz que só uma das fugas libertou 115 mil toneladas de metano quando a pressão diminuiu nas tubagens, isso simboliza apenas 0,14% das emissões globais anuais de metano da indústria de petróleo e gás. |
O problema não pode ainda assim ser ignorado porque o metano é um dos inimigos prioritários dos ambientalistas no combate às alterações climáticas. Ainda mais preocupante que o dióxido de carbono porque retém muito mais calor num curto espaço de tempo. É por isso que, para colmatar o impacto ambiental destas fugas no Nord Stream, teria sido melhor incendiar o metano e transformá-lo assim em dióxido de carbono. |
Continua a “guerra da água” entre Portugal e Espanha |
Terminou na sexta-feira passada o ano hidráulico e a gestão das águas dos rios internacionais continuou a alimentar uma polémica entre os dois lados da Península Ibérica até ao último minuto. Espanha não cumpriu os caudais anuais nos rios Tejo e Douro e fechou novamente a torneira à água dos rios que chega a este lado da fronteira. |
O Ministério do Ambiente argumenta que aceitou o corte porque Espanha armazena água que poderá ser necessária em Portugal se chover pouco em outubro e novembro. E mesmo a Agência Portuguesa do Ambiente admite que ter as comportas totalmente abertas seria um desperdício de água: como Portugal está sem capacidade de armazenamento, ela acabaria por ser encaminhada para o mar sem nunca ser utilizada na agricultura, por exemplo. |
Mas a Associação Zero considerou que Portugal é “demasiado subserviente” a Espanha nesta matéria. No programa Resposta Pronta da Rádio Observador, o presidente Francisco Ferreira considerou que os espanhóis violam a convenção sobre a partilha dos rios ibéricos e defendeu que é preciso repensar o uso “brutal” da água na agricultura, mesmo no lado espanhol da península. |
Ainda assim, para o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, “não há guerra nenhuma relativamente à água” — nem mesmo tendo em conta os apelos dos autarcas de municípios como Peso da Régua ou Miranda do Douro. Há antes “uma compreensão relativamente a um ano particularmente difícil do lado de cá e do lado de lá”. E uma esperança: segundo o governante, a chuva prevista para outubro deve ajudar a reduzir a seca em território nacional. |