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Pouca chuva e temperaturas muito elevadas. Os dois ingredientes fundamentais para o cocktail da seca extrema estão reunidos e Portugal atravessa este verão aquela que poderá vir a ser classificada como a pior seca desde que há registos. |
Recentemente, o IPMA revelou que desde outubro do ano passado até agora choveu praticamente metade do que seria um ano hidrológico normal (medido anualmente entre 1 de outubro e 30 de setembro). À agência Lusa, o instituto explicou que neste ano hidrológico 2021/2022 choveram, até agora, 419 milímetros, o que representa cerca de 51% do que seria um valor normal. Em fevereiro deste ano, quando o Observador visitou vários agricultores portugueses em Trás-os-Montes e na Beira Alta, os efeitos da falta de chuva já se faziam sentir e permitiam antever um ano muito complicado na produção de bens alimentares essenciais. |
À escassez de água somou-se um verão especialmente quente. Ainda estão bem vincados na memória dos portugueses os dias infernais que o país viveu em meados de julho, com quase metade do território português acima dos 40ºC e uma situação meteorológica de tal modo grave que obrigou o Governo a declarar situação de contingência para lidar com os fortes incêndios florestais que deflagraram por todo o país. Mais recentemente, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, confirmou que este está já a ser o segundo verão mais quente do século, superado apenas pelo de 2016. |
Juntando as temperaturas elevadíssimas e os solos secos pela falta de chuva no inverno passado, chega-se à receita para o desastre: atualmente, de acordo com dados do Governo, 60% do território de Portugal continental está em seca extrema (o grau mais elevado), enquanto os restantes 40% se encontram em seca severa (o segundo grau mais elevado). É um país totalmente devastado pela seca, com especial foco no nordeste transmontano, nas Beiras, no Alentejo e no Centro do país. |
Uma vez que, em Portugal, os serviços públicos de abastecimento de água estão sob jurisdição municipal, as autarquias estão neste verão a assumir um papel central no combate aos efeitos da seca. |
Na terça-feira, a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) assinou uma declaração de compromisso para a “Adaptação e Mitigação das Alterações Climáticas nos Serviços de Águas”, em conjunto com a Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas. No documento, os municípios portugueses comprometem-se a “impulsionar os esforços necessários para a adaptação e a mitigação às alterações climáticas, em particular no que se refere aos serviços de água, para garantia de gerações futuras”. |
Mas este compromisso genérico tem uma tradução concreta. De norte a sul do país, as câmaras municipais estão a multiplicar-se em medidas de contingência para mitigar os efeitos da escassez de água. O Observador olhou para o mapa de Portugal e fez um levantamento daquilo que as autarquias estão a fazer. O retrato que resulta desse levantamento é o de um país a conta-gotas, com as câmaras municipais a reativarem captações de água e a interromperem a rega de jardins públicos, a fechar fontanários e bebedouros, a abastecer localidades com recurso a camiões cisterna, a fiscalizar de modo mais apertado os usos indevidos da água, a encerrar piscinas municipais e a recomendar aos cidadãos que não reguem os jardins, não lavem carros e passeios e poupem água em casa. |
Contudo, por muito que as autarquias se esforcem por mitigar os efeitos da escassez de água, poupar água está, essencialmente, nas mãos de cada um de nós. Os conselhos do costume já os sabe: tomar banhos mais curtos, lavar a loiça na máquina, regar o jardim de manhã cedo ou ao fim do dia, e por aí fora. Mas há muitas formas menos óbvias de poupar uma grande quantidade de água. No Observador, a jornalista Marta Leite Ferreira deixa-lhe dez sugestões. Um exemplo? Beber cerveja em vez de vinho. Leia este artigo para perceber porquê. |
Nova primeira-ministra britânica preocupa ambientalistas |
No início desta semana ficámos a saber que Liz Truss, até aqui ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, é a nova primeira-ministra britânica. A escolha dos militantes do Partido Conservador, que Truss agora lidera, tem feito correr muita tinta nos jornais internacionais, incluindo no Observador, numa altura em que se vão seguindo os primeiros passos da nova primeira-ministra em busca de pistas sobre o que será a sua governação. |
Liz Truss chega à liderança do governo de uma das maiores economias do planeta num momento em que o combate às alterações climáticas é um dos tópicos centrais do debate global — um debate, de resto, no qual o Reino Unido tem tido um papel de relevo, sobretudo depois de ter acolhido, em novembro passado, a COP 26 na cidade de Glasgow. Nessa cimeira global, os países voltaram a comprometer-se com os objetivos de atingir a neutralidade carbónica até meados do atual século. |
Mas a escolha de Liz Truss está a causar desconforto entre políticos e ambientalistas que temem que, sob a liderança da nova primeira-ministra, o Reino Unido possa não cumprir as metas climáticas a que está legalmente obrigado. |
Hoje mesmo, no dia em que Truss esteve pela primeira vez no Parlamento na qualidade de chefe de governo, o jornal The Guardian noticiou que um grupo de deputados de todos os partidos britânicos escreveu uma carta à nova primeira-ministra pedindo-lhe que mantenha os compromissos climáticos assumidos pelo governo de Londres. “As decisões que o seu governo tomar vão ter um impacto assinalável nas vidas das pessoas em todo o país e, na verdade, em todo o nosso planeta”, lê-se na carta. “Esperamos que enquanto primeira-ministra continue a apoiar medidas para que este país alcance a neutralidade carbónica até 2050 ou antes, ao mesmo tempo que luta pelo clima e pela natureza no cenário internacional.” |
A preocupação surge depois de, nas últimas semanas, Liz Truss ter dado vários sinais de que o combate climático não está no topo das suas prioridades políticas. |
No final de agosto, por exemplo, a imprensa britânica noticiou que Truss estaria a planear intensificar a exploração de petróleo no Mar do Norte para fazer frente à crise energética, permitindo a emissão de 130 novas licenças de perfuração. O anúncio levantou graves preocupações entre os ambientalistas, que temem que o plano contribua simplesmente para continuar a alimentar a economia dos combustíveis fósseis em vez de favorecer uma transição para fontes de energia renováveis — além de que a medida parece ter pouco a ver com o combate à atual crise energética, já que cada nova exploração precisará de várias décadas até começar a extrair petróleo. |
Semanas antes, Liz Truss tinha afirmado ser radicalmente contra a instalação de painéis solares nos campos agrícolas britânicos. “Penso que uma das vistas mais deprimentes que vemos quando andamos a conduzir pela Inglaterra é a dos campos, que deviam estar cobertos de vegetação ou de gado, cheios de painéis solares”, disse Truss durante um evento de campanha no início de agosto. |
A escolha de Liz Truss para liderar o ministério da Economia, Energia e Estratégia Industrial recaiu sobre Jacob Rees-Mogg, político britânico que por várias vezes já se mostrou um cético do combate às alterações climáticas e favorável à intensificação da extração de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que se declarou contra a aposta na energia solar. Rees-Mogg, um representante da ala mais à direita do Partido Conservador, posiciona-se habitualmente contra a intervenção estatal nos mercados. |
Atualmente, os compromissos climáticos assumidos pelo Reino Unido estão classificados pelo Climate Action Tracker como “quase suficientes” para atingir as metas do Acordo de Paris. |