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A última terça-feira era um dia normal de trabalho para a Rita Pereira Carvalho. Adivinhava-se até bastante calmo quando saiu de casa para dar boleia para a redação à Marta Leite Ferreira. Ambas são vizinhas de bairro e de secretária, na secção de sociedade. Mas depressa a Rita percebeu que o uso do pretérito imperfeito do verbo ser estava longe de se aplicar ao que a esperava nas próximas horas. Quando estava a chegar a casa da Marta recebeu uma mensagem do editor-adjunto Pedro Raínho que mudou tudo: “Houve um esfaqueamento com duas mortes no centro Ismaili. Preciso que vás para lá rapidamente”. E ela acelerou (sem excesso de velocidade, mas de adrenalina: naquele momento, todas as possibilidades estavam ainda em aberto, perante um ataque inédito em Portugal num centro religioso). | Enquanto a Rita conduzia, a Marta ia-lhe lendo todas as notícias em voz alta para tentar perceber o que faltava saber, a quem poderia ligar, quem estaria já no local. Depois arrancou para lá, juntando-se ao André Maia, que iria fazer os diretos para a rádio, e ao Filipe Amorim, encarregue da reportagem fotográfica. | O Filipe também tinha sido interrompido por um telefonema enquanto andava, tranquilo, às compras. Quem lhe ligou foi o editor de fotografia João Porfírio, que estava de folga e fora de Lisboa, com a mesma informação: havia um ataque, se ele podia fotografar. Só teve tempo de passar por casa para ir buscar o material. Problema: o computador estava sem bateria e a placa de net também. | Nenhum teve tarefa fácil. Foi uma espécie de jogo de paciência: primeiro a procurar dados sobre o que se tinha passado, depois sobre quem eram as vítimas e o agressor, e, por fim, o que tinha motivado o ataque e que linhas seguia a investigação. Informações que, além de serem enviadas para a redação, onde o tema estava a ser acompanhado ao minuto em liveblog e em emissão na rádio, já com uma equipa reforçada, deveriam depois fazer parte também da reportagem final sobre como Abdul chegou a Portugal com feridas abertas e a calma do Centro Ismaili ruiu quando pegou numa faca. | Assim que chegou, a Rita encontrou uma mulher a olhar para o portão da entrada. Descobriu que era a empregada de limpeza do centro, que tinha saído para tomar café quando o ataque aconteceu e já não foi autorizada a entrar. Passou o dia ao lado a Rita, a fazer telefonemas e a contar-lhe o que estava a acontecer — mas também a reclamar porque tinha a mala, os sapatos e o casaco dentro do edifício. Só foi embora às seis da tarde, pouco depois de a Rita ter comido um croquete no café que lhe serviu de apoio o dia todo — foi lá que carregou o telemóvel, o computador e guardou a mala enquanto fazia reportagem. | Já o Filipe, que andou pelo meio de todo o aparato policial, percebeu que havia duas entradas. Uma onde estavam quase todos (junto à Avenida Lusíada) e outra, nas traseiras, por onde entravam os familiares. E teve que decidir em qual delas estar: acabou a correr entre ambas, a apanhar a chegada de famílias desoladas e a de políticos, depois de ter carregado o PC e o router num powerbank no chão, junto a um carro da Unidade Especial de Polícia. Também ele só saiu do local uns 15 minutos, para ir ao mesmo café que serviu de apoio à Rita beber um café e comer um croissant, o mais depressa que conseguiu. | Mas num trabalho como este há sempre momentos complicados, linhas vermelhas que não se podem pisar, questões sensíveis para tratar com pinças. E mesmo que se tenha tudo isto sempre presente, bem presente, como a Rita teve, houve um momento difícil e muito duro. Aquele que a marcou mais naquela que devia ter sido apenas uma terça-feira normal. | Ela conversava com uma mulher que estava a tentar perceber o que tinha acontecido, já que o marido estava lá dentro mas tinha ficado sem bateria no telemóvel. A mulher estava sentada à sua direita e, do lado esquerdo, um homem desorientado ia dizendo que também não conseguia falar com ninguém, que também teria alguém no centro com quem não conseguia contactar. A Rita perguntou-lhe quem, ele disse-lhe que era a sobrinha, que não sabiam nada, que não entendiam bem o que se passava e, quando ela perguntou se já tinha tentado falar com ela, recebeu a pior resposta da sua vida: “Como é que falo com ela se ela está morta?” A Rita congelou, não soube o que dizer, a não ser pedir desculpa. Repetidamente. | Falou depois com outros os jornalistas e perguntou: “Como é que lidamos com isto?”. Não há uma fórmula perfeita que se aplique a estas situações imprevisíveis. Mas é também por isso que o trabalho de um jornalista é muito mais do que escrever ou falar. | Vem aí o quarto episódio de “O Sargento na Cela 7” | O quarto episódio de “O Sargento na Cela 7”, o podcast narrativo do Observador sobre o piloto português que mais tempo passou em cativeiro durante a guerra de África será lançado já na próxima terça-feira (sim, a série já vai a mais de meio). Se ainda não ouviu, aproveite o fim de semana para escutar o desenrolar da história no primeiro, segundo e terceiro episódios. É uma história de guerra, de amor e de uma operação ultra secreta que tinha como objetivo mais do que resgatar este e outros prisioneiros portugueses. Narrada por Pêpê Rapazote, com música original de Noiserv, resulta da investigação dos jornalistas Tânia Pereirinha e João Santos Duarte, com sonoplastia de Diogo Casinha, permitindo uma experiência imersiva em áudio. Está disponível em diversas plataformas como o Spotify, o Apple Podcast, o Google Podcast, além do Youtube, Instagram e Facebook, além, é claro, do site do Observador. |
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Crime
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Saúde Mental
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Os episódios psicóticos são cortes com a realidade e podem durar a vida inteira se não forem diagnosticados. E em tribunal, quando provados, podem levar ao arquivamento dos processos.
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Estados Unidos da América
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Pela primeira vez na História dos EUA, um ex-Presidente é formalmente acusado pela Justiça. O que está em causa na acusação? Há risco de Trump ser preso? E que impacto terá tudo isto na campanha?
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Mercado Imobiliário
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Após uma consulta pública de mês e meio, com mais de 2.700 contributos, Governo fechou a versão final – embora não "estanque" – do pacote Mais Habitação. Veja um resumo das principais medidas.
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Governo
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"Perplexo" com o impacto do arrendamento forçado, Costa deu um passo para o lado para trazer autarcas à responsabilidade. Partilha de fardo também apanha PSD que domina metade do mapa autárquico.
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António Costa disse que critério para a bonificação nos créditos é aumento de três pontos percentuais face à Euribor no momento da contratação. Mas não é bem assim: juros negativos são desprezados.
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Inflação
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Dois dias intensos de negociações, pressões e até melões. Tudo começou com um cabaz de 96 produtos e terminou com um acordo fechado em cima da hora. Este é o filme do pacto para o IVA zero.
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Comércio
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Justiça
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Tribunal de Santarém considerou que "todos os arguidos agiram de forma livre, voluntária e consciente", mas esclareceu algumas dúvidas sobre a noite em que Sara Carreira morreu.
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Costa e Marcelo, de guayabera branca, tornaram a cimeira iberoamericana numa cimeira da paz entre ambos, onde explicaram porque têm a mais cúmplice relação entre São Bento e Belém.
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Em entrevista, José Manuel Pureza, do Bloco, defende desenho final da lei da eutanásia e diz acreditar que Marcelo e o Tribunal Constitucional não têm a margem para travar novamente o diploma.
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Continuam as críticas dos pediatras à reorganização das urgências em Lisboa e Vale do Tejo, mas plano funciona há quase 20 anos no Norte. É mesmo possível replicá-lo na capital?
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Dale Davis, baixista e ex-diretor artístico de Amy Winehouse, antecipa o concerto no Casino do Estoril, esta terça-feira. A banda original traz Bronte Shand no papel de vocalista em "Forever Amy".
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Já vimos os quatro primeiros episódios do encerrar desta história de sucessão, inveja e trauma familiar. Sem spoilers, dizemos-lhe que pode contar com tudo o que já esperava — e talvez um pouco mais.
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“Errante” é o 13.º álbum de uma carreira com mais de 30 anos. Em maio e junho mostra-o ao vivo entre nós, já com nove datas confirmadas. Antes, em entrevista, diz-nos porque é que falhar a salva.
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Os reality shows e do TikTok, o pavor do mediatismo, o desespero de encontrar casa. Entrevista com Wasted Rita, a artista que nos confronta com o que vemos e a vivemos (e que tem uma nova exposição).
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João Zilhão, diretor do Estoril Open, projeta edição do principal torneio nacional com número 4 do mundo, três ex-vencedores e oito top 50 – e fala também das hipóteses Nadal, Djokovic e Alcaraz.
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Ouça a estreia. Um piloto de guerra despenha-se na Guiné em 1963. Na véspera tinha dito à mulher: “Se algum dia eu não chegar a casa, não te preocupes: hei de voltar”. Esta é a sua história.
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No novo episódio do podcast "O Sargento na Cela 7", António Lobato é atacado e preso por guerrilheiros do PAIGC. Tenta fugir pela primeira vez mas fracassa. Maria dos Anjos recebe uma carta misteriosa
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No novo episódio do podcast "O Sargento na Cela 7", Lobato recebe a ajuda de um prisioneiro excêntrico. Com a ajuda dele, o piloto passa a corresponder-se com Maria dos Anjos usando um código secreto.
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Podcasts
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Podcasts
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Resgatado de uma casa-prisão do PAIGC aos 32 anos, António Lobato regressou a Lisboa — apenas para ser preso outra vez. Só uma semana depois é que foi libertado. E teve de mentir publicamente.
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Podcasts
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Aos 52 anos, Pêpê Rapazote é um dos mais internacionais atores portugueses. Em "Narcos", "Shameless" e "Maré Negra" fez de barão da droga. Agora, é o narrador de "O Sargento na Cela 7".
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Opinião
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O wokismo tem a força que lhe dão as elites do poder. A comparação entre o actual “wokismo” e a “contra-cultura” dos anos 1960 é, a esse respeito, reveladora.
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Ao contrário do que nos têm tentado convencer muitos pseudopacifistas, a Rússia não invade países porque eles estão bem armados. Pelo contrário, invade e anexa países vizinhos mais fracos e isolados!
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Penso frequentemente: mesmo que legal, será que é desejável construirmos uma sociedade onde cada vez mais pessoas dizem “não conseguir” ouvir argumentos contrários, pois tal constitui uma violência?
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A redução do IVA nos bens alimentares é uma medida controversa. A política, mais do que as políticas, pode explicar o recuo do Governo.
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Há hoje mais população dependente do Estado para não cair na pobreza do que há cerca de 20 anos. Esta é uma consequência lógica das escolhas políticas do país nesse período.
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