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A entrevista que Adriano Moreira deu ao projeto Arquivo Europeu de Vozes feita pelo João Francisco Gomes foi publicada pelo Observador no último domingo. Mas a sua história começou há mais de dois anos. |
Tudo começou em julho de 2018, quando o João Francisco e o João Porfírio foram ao Iraque fazer várias reportagens sobre a recuperação das aldeias cristãs dizimadas pelo Estado Islâmico. Estavam com uma missão da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre com jornalistas de outros países com quem mantiveram contacto. E foi assim que em dezembro o João Francisco recebeu o convite de uma repórter de um dos principais jornais alemães, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, para fazer parte de um projeto de que ela fazia parte. |
Dentro do Arbeit an Europa, o coletivo de jovens fundado na noite do referendo do Brexit contra a desintegração europeia como identidade cultural, estavam a desenvolver o primeiro grande projeto internacional: o European Archive of Voices (Arquivo Europeu de Vozes). Entrevistas com personalidades de toda a Europa (além das fronteiras da UE), nascidas antes da Segunda Guerra Mundial, e que tivessem por isso testemunhado, desde o início, os esforços da integração europeia, através das histórias de vida de cada um, das suas vivências pessoais. |
Para o João Francisco, que estudou Estudos Europeus, foi como dar um doce a uma criança. Em janeiro de 2019 estava em Hamburgo, com mais 40 jornalistas de praticamente todos os cantos da Europa, para lançarem juntos o projeto e pensar em como dar forma ao arquivo. Definiram os formatos das entrevistas (com algumas regras, como tópicos comuns e perguntas concretas) para haver coerência, discutiram questões técnicas e voltaram cada um com trabalho de casa. |
O João já trazia alguns nomes em vista, mas não teve dúvidas quanto àquela que queria como primeira “voz”. Adriano Moreira que, aos 98 anos, depois de uma vida cheia em que, entre tantas outras coisas, foi ministro do Ultramar no governo de Salazar, testemunhou como Portugal foi gradualmente deixando de se virar para África e passou depois a relacionar-se com a Europa. Marcou a entrevista através de uma troca de emails com a sua secretária na Academia das Ciências. E na manhã do dia 11 de março de 2019 foi até lá e ficou duas horas à conversa com o professor, que se revelaram escassas para as milhares de histórias da sua vida. |
O problema veio depois: além do longo processo de edição e tradução, teve também de fazer toda a contextualização. Como o grande público-alvo da entrevista no arquivo são estrangeiros, escreveu 21 notas de rodapé para clarificar uma série de referências que seriam óbvias para os leitores portugueses. |
A entrevista (com versão podcast) fez parte das primeiras seis publicadas no lançamento do arquivo, no último mês de setembro. Até ao fim do ano sairão as restantes. Serão cerca de 50. |