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Tudo começou algumas semanas antes, quando o editor de Fotografia do Observador começou a ouvir comentários soltos sobre o que se passava no Alto de São João, um dos maiores cemitérios de Lisboa. Com o número de infetados a aumentar, com o número de internamentos a aumentar, com o número de doentes em cuidados intensivos a aumentar e com o número de mortos a aumentar — estava também a aumentar a pressão nos cemitérios. |
A primeira decisão do João Porfírio foi ir sozinho ao Alto de São João, sem câmara nem caneta, para perceber se os relatos eram mesmo reais. Eram. Passados uns dias, voltou. Já não ia sozinho — estava com a Marta Leite Ferreira e com o Diogo Ventura. E já não ia sem nada — os três levavam câmaras, canetas, gravadores e um drone. |
O drone seria fundamental. Podemos escrever os números todos. Podemos explicar que um espaço que bastaria para um ano de enterros no Alto de São João já vai a meio em 50 dias. E podemos fazer comparações: no primeiro mês de 2020, em vésperas de a Covid ter chegado a Portugal, houve 250 enterros e 381 cremações; este ano, no mesmo mês, houve 422 enterros e 549 cremações. |
Mas esta imagem resume tudo isso: |
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Quando o trabalho foi publicado, na quarta-feira, alguns leitores pensaram que era uma fotografia tirada no Brasil. Não era. |
Estas duas reportagens multimedia não são fáceis de ler, nem de ver, nem de ouvir. Mas, sem elas, não é possível perceber totalmente aquilo que nos aconteceu e que nos está a acontecer. |