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Nestas duas fotos com quase três séculos de distância, o difícil não é encontrar as diferenças mas sim as semelhanças. Mas era suposto elas terem muito mais em comum do que acabaram por ter. |
Quando a 19 de janeiro de 1729, na fronteira do rio Caia, entre Elvas e Badajoz, se montaram três pavilhões, um de cada lado das margens e um, mais importante, no centro do rio, a cerimónia que ali iria ocorrer poria fim a mais um ciclo de inimizade entre os dois países, que durava então há 90 anos. Os dois reinos, com as famílias reais completas presentes, grandiosos séquitos, e muita pompa, tal como combinado ‘diplomaticamente’, iam trocar infantas: María Ana Victoria de Borbón, de 11 anos, era entregue à corte portuguesa para casar com o herdeiro da coroa, José, príncipe do Brasil, três anos mais velho, e chegaria a rainha de Portugal e regente na doença do marido; Bárbara de Bragança, de 17 anos, fazia o caminho inverso para casar-se com o herdeiro espanhol, o futuro Fernando VI. |
Esta terça-feira, 1 de julho, o mesmo local não terá sido escolhido por acaso. Três meses depois de a pandemia do novo coronavírus ter obrigado a fechar a fronteira entre Portugal e Espanha, a reabertura das ligações terrestres entre os dois países juntou na entre Elvas e Badajoz o rei espanhol Felipe IV, o presidente da República portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa, e os chefes de governo dos dois países, Pedro Sánchez e António Costa. Mas a cerimónia que parecia à partida cheia de simbolismo foi minguando na agenda, até se tornar em algo meramente protocolar. |
No fim, tudo se resumiu ao que está tão bem retratado na foto do João Porfírio que está no topo desta newsletter e no texto da Rita Dinis: seriam cerca de 120 os jornalistas (portugueses e espanhóis), meia dúzia de assessores, as quatro mais altas figuras dos dois países e… zero povo. Pelo que o problema do distanciamento social só foi mesmo difícil de manter em relação à comunicação social. |
De Elvas para Badajoz, logo às 7h30, com dois autocarros disponíveis, e ainda só com os representantes portugueses, tudo correu bem. Depois, a cada movimentação, todos os repórteres de imagem, assistentes de som das televisões, fotojornalistas, redatores e repórteres de rádio começaram a andar atrás das quatro “entidades”, entre empurrões, até onde os seguranças permitiam. E de lá para cá, como foi dada boleia aos colegas espanhóis, não houve bancos de distância que chegassem nos ‘transfers’. |
Mas em duas horas estava tudo terminado e os discursos tinham sido despachados em 15 minutos. Felipe e Marcelo ficaram em silêncio e as juras eternas trocadas entre Costa e Sánchez aconteceram fora do programa e longe dos ouvidos dos media. |
O que também não deixa de ser simbólico. |