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Vamos apimentar a nossa comida, pela nossa saúde |
A forma como temperamos a comida pode ser nossa aliada. Esta frase é um facto. Mas a ideia é reforçada se falarmos de picante. E por uma razão bem simples: a comida picante pode criar uma sensação de maior saciedade. |
Os alimentos “apimentados” contêm ingredientes que produzem uma sensação de calor ou picante na boca. Estes ingredientes normalmente contêm um grupo de compostos chamados capsaicinóides, que são encontrados em jalapenos, pimenta caiena, no wasabi japonês, pimenta preta ou gengibre. |
Quando comemos uma comida picante, a capsaicina ativa recetores de dor na boca, garganta e trato digestivo, o que causa uma sensação de calor. Isto desencadeia uma resposta do corpo, incluindo a libertação de hormonas como a colecistoquinina (CCK) e o peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1). |
A CCK é libertada pelas células do intestino delgado em resposta à presença de gorduras e proteínas, sinalizando o cérebro de que o estômago está cheio, o que pode ajudar a regular o apetite e reduzir a ingestão de mais alimentos. |
Já a GLP-1 é libertada pelas células do intestino em resposta à presença de hidratos de carbono. Esta hormona vai estimular a libertação de insulina pelo pâncreas, o que ajuda a regular os níveis de açúcar no sangue. Além disso, o GLP-1 demonstrou atrasar o esvaziamento gástrico, o que também pode contribuir para uma sensação de saciedade. Ou seja, não é indiferente se o queijo fresco em cima da tosta é temperado com picante ou não. |
No entanto, é importante referir que o efeito da comida picante no apetite e saciedade pode variar dependendo de fatores como genética, exposição prévia a alimentos condimentados e quantidade de especiarias consumidas. |
Os alimentos picantes podem ter efeitos benéficos para a nossa saúde, como por exemplo: |
- Efeito anti-inflamatório;
- Melhoria na digestão, quando consumidos com moderação como parte de uma dieta equilibrada;
- Alívio da dor: a capsaicina é por vezes aplicada topicamente, estimulando os recetores da dor no corpo e ajudando a tratar doenças como a artrite reumatoide e a neuropatia diabética, um tipo de lesão nervosa relacionada com a diabetes;
- Perda de peso: algumas pesquisas sugerem que a capsaicina aumenta o metabolismo, aumentando a queima de gordura.
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Mas a ingestão excessiva de comida picante também pode ter alguns riscos potenciais, como: |
- Desconforto digestivo, irritando a mucosa interna do estômago e dos intestinos, levando a azia, refluxo gastro-esofágico e dor;
- Aumento do risco de distúrbios gastrointestinais, podendo desencadear ou exacerbar síndrome do intestino irritável (SII) ou doença inflamatória do intestino (DII);
- Reações alérgicas ou efeitos secundários adversos a certas especiarias (urticária, comichão ou dificuldade em respirar);
- Interferência com medicamentos, exacerbando efeitos colaterais em anticoagulantes ou antibióticos.
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A relação entre comida picante e cancro é outra questão complexa e as evidências ainda não são conclusivas. Alguns estudos sugerem que o consumo de alimentos condimentados pode ter um efeito protetor contra certos tumores, como o cancro do estômago, devido às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Mas, por outro lado, é também possível que o consumo de alimentos condimentados possa aumentar o risco de cancro de esófago, devido à irritação causada pela capsaicina. |
No geral, as evidências ainda não são conclusivas e são necessárias mais pesquisas para entender melhor a relação entre esta doença e comida picante. É importante notar, porém, que uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteína magra é geralmente recomendada para reduzir este risco e promover a saúde em geral. Sem esquecer, claro, que alimentos picantes podem ser consumidos com moderação como parte de uma dieta equilibrada. |
Verdadeiro ou falso? McDonald’s em França vai deixar de ter batatas fritas |
Verdadeiro (mas apenas temporariamente). A partir de 7 de março, e durante três semanas, o gigante do fast-food não vai servir batatas fritas nos restaurantes em França, substituindo-as por uma mistura de três vegetais – cenoura, beterraba e pastinaca — também eles fritos. A marca diz que o objetivo é testar novos acompanhamentos junto do consumidor e, ao mesmo tempo, diversificar a alimentação dos mesmos. Uma oportunidade para reduzir o consumo de batatas fritas é sempre positivo, uma vez que estão entre os alimentos com maior teor de acrilamida, uma substância que se desenvolve durante a fritura (não sendo exclusiva deste método de confeção) e está associada a risco aumentado de cancro. É claro que esta alteração de oferta poderia ser ainda mais positiva se as batatas fossem substituídas por vegetais crus em vez de fritos, uma vez que também se verifica produção de acrilamida nesse alimwento com esse método de confeção. |
Uma pergunta frequente nas consultas: como levar uma salada para o trabalho se quiser levar um molho saudável? |
A melhor forma será levar salada num frasco de vidro com tampa de rosca. Em relação a molhos saudáveis, pensaria em soluções como molho de iogurte ou molho tzatziki, mas também azeite de manjericão ou guacamole. O segredo para levar uma salada que não fique “cozida” é a ordem com que se colocam os ingredientes no frasco: em baixo coloca-se uma a uma a duas colheres de molho saudável; em segundo lugar os vegetais ”impermeáveis” como cenoura ralada, rabanete, beterraba, couve coração ou couve roxa ralada. Em terceiro lugar, os ingredientes pesados que não devem estar em contacto com o molho, como sementes ou frutos secos partidos, grão, feijão, milho ou azeitonas. Alguns vegetais pesados também não devem estar em contacto com o molho. É o caso dos brócolos, tomate, cebola roxa, pepino ou pimento. Em quarto e último lugar devem ir as folhas verdes como rúcula, alface ou canónicos, que devem ocupar metade do frasco — que deve se transportado na vertical. No momento de consumir basta abanar o frasco e, com um garfo, misturar bem os ingredientes. |
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Desde o dia 1 de Janeiro de 2023 que os restaurantes com mais de vinte lugares em França estão obrigados a servir as refeições com pratos, copos e talheres reutilizáveis. Esta é uma das muitas medidas desta alteração legislativa que se deu em 2020 e que tem vindo a ser implementada tendo em vista a redução da produção de lixo e do recurso a embalagens de utilização única. Em 2022 voltaram as fontes públicas de água potável em escolas, hospitais e bibliotecas tendo em vista a redução das garrafas de água, assim como a obrigatoriedade de estar visível nos menus dos bares e restaurantes a informação de que têm água disponível de foram gratuita. |
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Mariana Chaves é nutricionista clínica, autora do podcast Aprender a Comer, na Rádio Observador, e do livro Dieta Única (ed. Guerra e Paz, 2016) [ver o perfil completo]. |