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Dois mil e vinte não cabe num email e mesmo que me desfizesse em palavras não lhe conseguiria fazer justiça. Direta ou indiretamente, todos sentimos na pele as consequências da pandemia. E ainda que a época seja tradicionalmente de balanços, a angústia de ter de o fazer leva-me mais depressa a acreditar que a maioria de nós fez o que pode. Tivemos de nos reinventar, gerir expectativas, adiar planos, antecipar outros, lidar com perdas. O conceito de cansaço ganhou uma outra dimensão, a par com o da paciência, o da imprevisibilidade e o da incerteza. O da fragilidade também. Lembro-me de ter medo de que “isto” demorasse muito tempo a passar e, entretanto, passaram nove meses. A noção de tempo também mudou. Acho que eu mudei. E vocês? |
Serve isto para dizer que, independentemente do saldo final de cada balanço, há várias certezas que nos acompanham a todos nesta transição para 2021. E a de que a tecnologia nos salvou um pouco é uma delas. Quando penso nisto, surgem-me várias questões. Por exemplo: Como seria viver uma pandemia e um confinamento… |
… sem poder usar os serviços na cloud para trabalhar mais facilmente a partir de casa?
… sem poder usar as videochamadas para reunir, falar com amigos e familiares?
… sem ter serviços de streaming vários que ajudassem a compensar as idas ao cinema ou ao teatro?
… sem ter redes sociais para assistir a debates e concertos online sem pagar nada por isso?
… sem ter plataformas de entrega de refeições que me permitisse apoiar a restauração e continuar a comer alguns dos meus pratos favoritos?
… sem ter lojas online onde pudesse comprar o que preciso e apoiar o comércio local? |
Sim, acho que posso dizer que a tecnologia nos salvou a todos um bocadinho. Mas, a par da bonança tecnológica, as consequências. A digitalização a que “isto” nos obrigou pôs mais depressa a descoberto os problemas que ainda há por resolver: muitos destes negócios não têm modelos de negócio justos para todas as partes; as questões de privacidade estão longe de estar resolvidas, a cibersegurança está constantemente a ser desafiada, a desigualdade económica entre os poucos que conseguem estar na linha da frente da revolução digital e tudo o resto é mais do que evidente (e cada vez maior); e aquela que prometeu ser a maior bandeira tecnológica contra a pandemia — as apps de rastreio — acabou o ano sem conseguir provar a sua eficácia. |
O fenómeno das aplicações como a StayAway Covid foi o mote para a conversa que tive com Armin Grunwald, diretor do Instituto de Avaliação da Tecnologia alemão e especialista em ética e filosofia tecnológica. Foi ele que me lembrou de uma velha história (palavras do próprio): “Quando há um problema social as pessoas pedem por uma solução tecnológica que, na maioria das vezes, não resulta ou não funciona.” E apesar de ainda não haver dados suficientes para falar da eficácia deste tipo de apps, Grunwald sublinha que os países partiram para a implementação desta tecnologia com uma “pré-condição falsa”: a de que grande percentagem da população iria “ativamente cooperar, usar a app, pôr o código”, o que, de facto, não veio a acontecer. |
A entrevista está aqui toda para lerem e, abaixo, têm muito mais sugestões de leitura para os próximos dias: as grandes apostas dos empreendedores para 2021, como a Beta-i conseguiu faturar 2,5 milhões durante a pandemia, as 56 startups portuguesas que já apoiam o setor da saúde ou a história de um médico e de um engenheiro que criaram uma app para ajudar a melhorar a segurança dos ciclistas na estrada. |
Quanto a mim, despeço-me por hoje e só regresso em 2021. Até lá, tenho as minhas contas de final de 2020 por fazer. Ou então, não. Vou só confiar que fiz o melhor que pude. Tenham um Natal Feliz (e seguro) e entrem em 2021 com a força (e segurança) que o ano precisa. Que a bênção da tecnologia esteja sempre convosco :) |
Boas Festas e até janeiro! |