Marcelo Rebelo de Sousa — Que os afetos nunca lhe faltem — mesmo que o seu estilo de presidência omnipresente seja insustentável a prazo. Mas mais que os afetos, o que se pede é capacidade de discernimento para antecipar as dificuldades que esperam Portuzgal a partir do momento em que a economia europeia desacelere — como se prevê para 2019 e para 2020. Não só as previsões da Comissão Europeia e do Banco de Portugal preveem que Portugal regresse aos crescimentos anémicos abaixo dos 2%, como continuaremos a perder poder de compra face à média europeia. Não sendo o Presidente o líder da oposição, é fundamental, contudo, que à luz da realidade em que o principal partido da oposição pura e simplesmente não existe, Marcelo seja mais interventivo, crítico e pro-activo. Pode provocar tensões no curto prazo com António Costa mas terá legitimidade reforçada no futuro para criticar quando as coisas começarem a correr mal. Senão, ficará colado ao falhanço reformista que significa este Governo de Costa.

António Costa — Que tenha consciência que a sorte nem sempre o acompanhará. Não acredito que o adjetivo “habilidoso” seja uma qualidade num líder, quanto mais num político mas certo é que conseguiu a proeza de não ter feito uma reforma digna desse nome mas de, à boleia dos benefícios das políticas de Passos Coelho, do crescimento da economia europeia nos últimos 3 anos e do turismo, ter conseguido em 2017 a maior taxa de crescimento do PIB (2,7%) desde 2000 — e de ainda ter fugido pelos ‘pingos da chuva’ na responsabilização dos incêndios de Pedrógão e do Centro. O problema é que a ‘sorte’ não dura sempre e 2019 será um ano crucial para Costa. Ou consegue a maioria absoluta ou o seu futuro poderá ter um desfecho muito semelhante ao “pântano” de Guterres que o levou a demitir-se em 2001. Como bom “habilidoso” que é, certamente que culpará Passos Coelho, a troika, o Pai Natal e as suas renas pelo facto de Portugal a afastar-se da média da União Europeia em termos de competitividade e poder compra.

Rui Rio — Que tenha juízo — é o único desejo eficaz para o líder do PSD. O desastre que tem sido a sua liderança, com autênticos tiros de canhão nos próprios pés, a manifesta incompetência política e falta de visão estratégica para o partido (nem vale a pena falar sobre o país) são as causas do estado miserável em que o PSD se encontra. Mesmo que o PS não obtenha maioria absoluta em 2019, é cada vez mais provável que os social-democrata arriscam-se a ter o pior resultado a sua história — o que diminui o capital político para Rio continuar à frente do partido e tentar uma coligação com Costa. O único crédito que a história poderá dar a Rio é a responsabilização pela implosão do PSD — e consequente reorganização da direita.

Catarina Martins — Que abandone o populismo que caracteriza o discurso e a prática do Bloco de Esquerda — e que não surjam mais casos Robles que exponham a hipocrisia política do Bloco no seu máximo esplendor. A extrema-esquerda moderna bem tenta ter uma roupagem mais atraente, com um visual pós-moderno e uma linguagem ousada mas, na verdade, o neocomunismo que propõem é tão ultrapassado e antiquado quanto a linha marxista clássica do PCP. Com a agravante de que os comunistas não tentam parecer uma coisa que não são. Catarina aposta tudo nas legislativas de 2019 para que o PS não consiga maioria absoluta e só dependa do BE para consegui-lo. Essa tanto poderá ser a chave do seu sucesso como também a sua desgraça.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Jerónimo de Sousa — Que os sindicatos continuem a ganhar cada vez mais força. As sucessivas greves que o país está viver nas diversas áreas da função pública tem muita influência da CGTP, logo do PCP. Os comunistas representam, de facto, os verdadeiros conservadores do regime (os funcionários públicos e os pensionistas) e, se há alguma mudança que pretendem, é que “tudo mude para que fique na mesma”.

Assunção Cristas — Que Rui Rio continue líder do PSD até 2024 — o que será sempre um seguro para o crescimento sustentável do CDS. Cristas é a única cara visível de uma oposição com outra visão para o país que não o socialismo da geringonça. Debate quinzenal a debate quinzenal, intervenção a intervenção, a líder do CDS tem tudo a seu favor para ter um resultado histórico para o CDS. Para tal, basta não inventar e continuar a seguir o seu caminho. Talvez um pouco de mais rasgo não lhe faça mal para atingir um resultado claramente acima dos 10%.

Mário Centeno — Que continue na Europa a ensaiar a arte das cativações e de como deixar os serviços públicos à beira do colapso. Centeno tem sido um fator essencial para credibilidade deste Governo PS mas também tem sido um fator de divisão dentro do Executivo — e até do partido. O atual presidente do Eurogrupo não deverá fazer um segundo mandato como ministro das Finanças de Costa e tudo aponta para que consiga prosseguir a sua carreira em Bruxelas.

Eduardo Cabrita — Que chova muito durante a primavera e verão e que a Proteção Civil se entenda com os Bombeiros. Incêndios trágicos como aqueles que ocorreram em Pedrógão Grande e no Centro do país não podem voltar a acontecer — muito menos a meses antes das legislativas de 2019. Cabrita, figura muito próxima de Costa, entra assim no Ano Novo sob grande pressão para não estragar o caminho para a maioria absoluta do PS.

Francisca Van Dunem — Que tenha um último ano mais calmo que os últimos meses de 2018. Van Dunem teve a inteligência de mexer muito pouco numa área que foi totalmente reformada pela sua antecessora Paula Teixeira da Cruz. Contudo, é difícil não sair desgastada de tantas greves no sector, como as dos juízes, dos guarda prisionais e dos funcionários judiciais. E só vai piorar até às eleições de 2019. Isto para não falar do ajuste de contas que diversos sectores do PS ainda querem fazer com a Justiça, arricando-se a deixar Van Dunem pelo caminho como uma espécie de dano colateral.

Lucília Gago — Que tenha força para dar seguimento ao trabalho de Joana Marques Vidal na PGR. A nova procuradora-geral tem um perfil diferente mas não poderá desviar-se muito da trajetória anteriormente definida. Veremos que nome escolherá para suceder a Amadeu Guerra como diretor do DCIAP — um órgão essencial para combater a criminalidade económico-financeira.

Freitas do Amaral – Que veja a luz da razão, da fundamentação e das provas do caso BES/GES que foram sendo conhecidas desde 2012. E que escreva menos a pensar nos pareceres passados e futuros que lhe serão encomendados por amigos próximos de Ricardo Salgado. Se está mal informado, leia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Tem leitura para toda a época natalícia e para chegar à conclusão que Salgado é tudo menos uma vítima.

Azeredo Lopes — Que não falte à verdade quando for depor no Departamento Central de Investigação e Ação Penal a propósito do caso Tancos. Uma tarefa que pode ser complexa, ou não, para o ex-ministro da Defesa. Tudo dependerá dele.

Um Feliz Natal para todos os leitores.