António Costa anunciou um pacote adicional de 300 milhões de euros específico para a região do Algarve.

É de saudar o facto de a situação do Algarve ter sido separada daquilo que é a realidade do resto do país e, portanto, necessitar de um programa específico, além do já acordado com Bruxelas a nível nacional.

Causa-me, no entanto, alguma apreensão o objetivo ambicioso e, de certo modo irrealista, anunciado por António Costa face à limitação imposta pelo montante em causa: “Apoiar a diversificação da sua economia, melhorar infraestruturas e fazer investimentos necessários no setor da saúde.”

No fundo, o Primeiro-Ministro quer resolver grande parte dos problemas da região com 300 milhões de euros. E, surpreendentemente, não se foca apenas nos efeitos da pandemia na economia e na falta de diversificação da mesma, mas também em áreas que têm sido constantemente ignoradas por este Governo, como é o caso gritante do setor da saúde. Em poucas palavras, e falo enquanto tal, com este programa promete-se aquilo que qualquer algarvio deseja.

Lamentavelmente, 300 milhões de euros não resolvem tudo. Seria, no mínimo, útil estabelecer prioridades e objetivos realistas. É que, primeiramente, é indispensável perceber qual a verba destinada a cada um dos objetivos a que o Governo se propõe. Urge também compreender a que infraestruturas se refere o Sr. Primeiro-Ministro: será a ferrovia, a já prometida requalificação da EN125, os portos?

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Como já referido, é louvável reconhecer que são necessários investimentos no setor da saúde no Algarve, especialmente fora de campanhas eleitorais. Menos bom, é continuar, sistematicamente, a subestimar aquele que é um problema crónico da região. Se bem me recordo, há menos de um ano, em dezembro de 2019, a Ministra da Saúde afirmava que não havia falta de médicos no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, quando as listas de espera falavam e continuam a falar por si (imagine-se como será o cenário após meses de pausa no diagnóstico e tratamento dos portugueses).

No entanto, novamente, desconhecemos quais são, no entender do Governo, os investimentos necessários no setor da saúde. Este parece ser antes o lançamento de uma segunda pedra para a saúde da região e, em concreto, para a construção do Hospital Central do Algarve, que havia sido anunciada por Sócrates como prioridade nacional e teve direito a cerimónia de abertura de concurso público, um investimento estimado em 250 milhões de euros. Resta saber se não é, também, o lançamento de pedras aos olhos de cada algarvio.

As consequências da pandemia para a região são graves e os problemas já existentes, quer no setor da saúde quer ao nível das infraestruturas, só por si, já eram preocupantes antes da mesma. Contudo há que separar as águas. Este é um programa específico para a recuperação e diversificação económica pós-Covid-19. A crise tem afetado particularmente o setor do turismo, resultando numa subida significativa do desemprego na região, daí a necessidade de um plano específico para o Algarve e não de mais promessas para guardar na gaveta.