Quando chega a esta altura do ano surgem as mesmas dúvidas de sempre. Preparação para exames, tempos, alocações, quantidade de trabalho. É válido o pensamento para quem estuda como para quem trabalha. Agora, deixem-se de poesias e de grandes ensinamentos. E sobretudo não leiam livros cor-de-rosa que procuram ensinar-vos como fazer tudo e mais um par de botas. Quase tudo o que se diz e vem escrito nesses livros e em milhares de posts sobre como fazer isto e aquilo não tem qualquer aplicação prática. Há uma verdade universal que devem seguir: a vossa melhor versão. E, essa, só cada um de vós conhece.

1 Não façam gestão do tempo, tout court

O tempo é inexorável. 24 sobre 24 horas. Procurem antes gerir prioridades dentro dessas 24 horas. Prioridades como quanto dormir e quanto não dormir, que tempo passar a almoçar e jantar e que tempo não passar a almoçar e jantar, que tempo para desporto, que tempo para trabalho e que tempo para não trabalho. E convivam com as consequências disto tudo: se não conseguirem, não vem mal ao mundo. No final do dia, todos somos humanos. Isto é tal e qual como uma app. Arranjem uma app que vos diga como encaixar as prioridades nas várias horas do dia. E o bottleneck é a atividade que leva mais tempo: talvez dormir. E parem de me massacrar com a gestão do tempo. O tempo não se gere. E também não se diz que não tenho tempo. Não tenho é agenda para isto ou aquilo dentro do tempo que me é dado para viver.

2 Trabalhem com tempos compensados, globais

Fazer um balanceamento dos tempos pode ser também interessante. Mas não ao dia e à hora e de forma rígida. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Aquilo a que se chama worklife balance deve ser holístico, global. Senão torna-se numa utopia. Façam o exercício por grandes blocos de tempo e com compensações. Isso significa que hoje talvez tenham de trabalhar 14 horas. Para, na semana seguinte, poderem ver se conseguem ter um ou outro dia de 7-8 horas de trabalho. Já é um ganho. Se se atirarem ao vosso dia procurando não trabalhar mais de 7 horas por dia, todos os dias, pois não vão lá. Porque há dias de 14 horas. Como pode haver dias de 7. É importante que se compensem. Mas só. Não caiam na asneira de achar que todos são de 7 horas porque não são. Está nos livros cor-de-rosa. Mas o cor-de-rosa dos livros pouco tem a ver com a realidade da vida.

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3 Procurem mesmo priorizar

Parece um exercício simples e até uma nota desnecessária. Mas não é. Sobretudo, porque quando se criam prioridades se deve dizer que não. Aprendam a dizer “não”. Repito: aprendam cedo a dizer “não”. Porque não cabe dentro do que têm programado ou não é uma vossa prioridade. Assim sendo, digam que não. Não há prioridades sem um “não, não faço”. “Não, não posso”. Se disserem que sim a tudo vão acabar com a língua de fora e a dizer que não conseguem gerir o tempo, nem mesmo por blocos de compensações. Até porque o tempo não se gere.

4 Definam poucos objetivos. E tornem-nos SMART

i) Specific ou short. Exemplo: ler no máximo cinco papers sobre esta temática; ii) Measurable. Exemplo:  cinco, nem mais, nem menos; iii) Attainable. Exemplo: papers que consigam mesmo ler. Conseguem ler os cinco papers?; iv) Relevant e revisable. Exemplo: papers relevantes em número (quantidade) e tipo que possa ser revisível; v) Time-bound. Exemplo: ler os papers no máximo numa semana. Na semana x.

Se não conseguirem, então esqueçam o SMART e definam o objetivo mensurável. Se for mensurável, é melhor que nada. E se for mensurável, já o podem medir igualmente em tempo para lutarem contra a inércia e melhorarem a produtividade de uma próxima vez.

5 Melhorem a produtividade sem grandes rodeios

Escolham períodos do dia para fazer coisas verdadeiramente críticas. Se têm de fazer algo importante, façam-no nos picos em que têm maior concentração. Pode ser de manhã, à tarde ou à noite. Mas terão de o fazer nos vossos melhores momentos. E ninguém sabe os vossos melhores momentos a não ser cada um de vós. Não vem nos livros. Está no vosso corpo. Portanto, esqueçam tudo o resto que vem escrito de que estudar de manhã é que é bom porque estamos na hora mais produtiva. Depende. Depende de quão early birds são. Depende do relógio biológico.

6 Mantenham a motivação. Procurem guardar o melhor para o fim.

Variem a abordagem, mudem de aproximação, de método, mudem de local. Partilhem com outros as vossas questões, o vosso trabalho. Perguntem opiniões gerais e vejam como outros fazem. Serve para benchmark e não necessariamente para fazer como outros se organizam. E se querem um conselho que pode parecer despropositado, guardem o que vos dá mais gozo fazer para o fim. É a vossa recompensa. É a vossa remuneração.

7 Relativizem o que vos disse e sigam o vosso próprio caminho

Não procurem seguir caminhos de ninguém, muito menos os meus, quando se dão bem com uma determinada aproximação. Se se dão bem, prossigam. Vão em frente. Esqueçam este escrito e também tudo o resto que lerem para vos dizer como fazer. Na realidade, ninguém sabe muito bem como fazer. E quem sabe melhor é cada um de vós se pensar um bocadinho nas características próprias. O importante é a vossa melhor versão. Nunca a dos livros cor-de-rosa.