Tomou posse o novo ministro da Saúde, depois da saída abrupta de Marta Temido. É reconhecido o trabalho de Marta Temido à frente do Ministério da Saúde, nomeadamente no que diz respeito à pandemia de COVID-19. Infelizmente pouco mais deixou de marca. A morte de uma mulher grávida, quando era transportada do Hospital de Santa Maria para o São Francisco Xavier foi o caso mais dramático, e mediático, de um verão de caos nas urgências de Obstetrícia.

Manuel Pizarro é um médico que conhece bem o SNS, onde trabalha há mais de três décadas. A isto junta ainda a experiência governativa, com duas passagens pelo Ministério da Saúde, como secretário de estado da saúde, durante os governos de José Sócrates, bem como toda a experiência da sua carreira como deputado e eurodeputado.

Do novo ministro da Saúde espera-se um novo rumo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em primeiro lugar na atitude. Manuel Pizarro tem de falar e dialogar com os profissionais de saúde, recuperar a empatia que em tempos se perdeu. É ainda necessário que entenda os problemas que afetam o SNS e que esteja disponível para assumir compromissos para valorizar os médicos e outros profissionais de saúde.

Da forma como o sistema de saúde está a evoluir não está garantida a viabilidade e sustentabilidade financeira futura, mas também não vai ao encontro das expectativas dos cidadãos de terem um sistema de saúde moderno, de excelência com profissionais altamente motivados. Por isso, espera-se que o novo ministro seja capaz de reinventar o sistema de saúde.

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É fulcral que exista um choque de gestão, bem como um planeamento a médio prazo das atividades e dos recursos humanos. É fundamental que haja uma integração digital dos hospitais, centros de saúde e unidades de saúde, por exemplo. Se tal ocorrer, a tramitação de processos e a transmissão de informação entre os vários patamares do SNS será cada vez mais célere, com ganhos para os utentes, mas também para o próprio sistema, que poderá assim, a prazo, aumentar a sua capacidade de resposta. É, por isso, fulcral que o sistema de saúde mude na sua gestão conceptual, mas também naquela que é a componente operacional. Um SNS mais ágil e capaz de responder às necessidades prementes da população e de ultrapassar as carências conhecidas.

O novo estatuto do SNS pode ser um passo essencial nessa direção. Resta perceber como vai ser de facto operacionalizado, qual será o desempenho do novo diretor executivo do SNS e qual o seu papel na estrutura, dado que, neste momento, mais parece um segundo ministro da saúde. Espera-se agilização de processos e não um incremento de burocracia, com competências partilhadas com outras estruturas já no terreno, como a ACSS ou as administrações regionais de saúde.

Paralelamente, espera-se que o novo ministro da saúde seja capaz de valorizar os Cuidados de Saúde Primários (CSP), criando condições para que, cada vez mais, seja a verdadeira porta de entrada no SNS, com capacidade para receber e cuidar de muitos daqueles que, hoje, vão para as urgências hospitalares por falta de resposta atempada nas suas Unidades de Saúde Familiar.

O ministro da saúde, já o disse, conhece bem o setor e tem experiência governativa e, por isso, tem todas as condições para perceber os problemas que afetam os médicos e a saúde em geral. Bem como desenvolver soluções que minimizem todos estes problemas. Desde logo valorizando as carreiras médicas; concretizando, por fim, a definição legal do Ato Médico; e criando condições para que os médicos se fixem no SNS, em particular os mais jovens, que precisam de ter acesso a formação especializada. Um passo fundamental para que se sintam mais motivados para ficar em Portugal, em vez de emigrar. É urgente travar a fuga de jovens médicos para o estrangeiro, pois são absolutamente necessários para reforçar um sistema que acaba por não funcionar como os portugueses necessitam.