Depois de termos visto o que aconteceu em Lisboa, nas imediações do Estádio de Alvalade e no Marquês de Pombal, aquando da conquista do campeonato pelo Sporting, ficámos com promessas de encontrar eventuais culpados no inquérito que foi instaurado pelo Governo.

Após estes dramáticos incidentes, em que aparentemente ninguém da organização estava à espera, face à confusão que se instalou na capital, sobretudo após o apito final do jogo, o resto do país e os diversos partidos políticos criticaram e bem todo aquele cenário de total ausência de respeito pelo distanciamento social e uso obrigatório de máscara, para não falar do comportamento pouco exemplar de alguns intervenientes transmitido para o país e o mundo.

Por incrível que pareça, dias depois foi lançada pela imprensa a hipótese de Portugal ser o palco da final da Liga dos Campeões, que se realizaria no estádio do Dragão, no Porto. A final seria disputada entre duas equipas inglesas: Chelsea e Manchester City.

Esta final iria ter público, nomeadamente adeptos ingleses, com os bilhetes vendidos repartidos em números iguais para cada um dos dois clubes envolvidos. Por razões de segurança e sanitárias, apenas 33% dos lugares seriam ocupados pelos adeptos.

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Dias antes, provavelmente as pessoas que decidiram que esta final da Liga de Campeões seria no Porto com a assistência de milhares de adeptos, impediram, por razões logísticas e em nome da dificuldade de poder por em prática as medidas sanitárias para evitar um maior risco contágio e propagação da Covi- 19, a  presença de espetadores na final de Taça de Portugal que ocorreu em Coimbra.

Os adeptos de ambas as equipas inglesas viriam a Portugal, disseram-nos, sob controlo e vigilância por parte da organização e seriam divididos em dois grupos de “bolhas sanitárias”. Findo o jogo, seriam reencaminhados para o aeroporto, regressando ao Reino Unido.

Todos os adeptos teriam de apresentar o teste negativo à Covid-19, usar máscara tal como qualquer português e seriam multados, caso não cumprissem as regras sanitárias em vigor no nosso país.

O que vimos? Ou melhor, o que não vimos!

Não houve qualquer tipo de bolha sanitária, os ingleses espalharam-se por vários locais da cidade em grupos numerosos, sem qualquer distanciamento social e sem uso de máscara. Aliado a este panorama anti-medidas sanitárias em vigor no nosso país, a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas fez acender ainda mais a faísca e a perda de controlo emocional em vários locais da cidade. A polícia teve de intervir e fez o que podia! Não seguiu a legislação que está em vigor em Portugal e que seria a aplicação de multas aos intervenientes por não usarem máscara, a fim de evitar encher ainda mais o copo de água? álcool?, já quase a transbordar na maioria dos nossos ilustres visitantes ingleses, ávidos de poderem assistir ao jogo da final.

Este cenário faz-nos pensar que em Portugal existem dois pesos e duas medidas, quando certo tipo de interesses desportivos ou políticos estão em jogo. Aquilo que não é autorizado por razões sanitárias, torna-se possível segundos depois quando se trata de grupos políticos ou finais europeias de futebol.

Será que nós, Portugueses, somos todos um grupo de bons rapazes que fechamos os olhos e engolimos sapos vivos a tamanha falta de respeito, irresponsabilidade e dualidade de critérios?

Esta prometida bolha sanitária que deveria existir, afinal, foi alguma vez planeada? Ou simplesmente explodiu muito antes de os adeptos ingleses entrarem nos aviões com destino a Portugal?

Será que mais uma vez irá ser instaurado um inquérito, mais um com desfecho que ninguém conhece, sobre as famosas duas bolhas, ambas azuis, que ninguém viu porque nunca existiram?

E depois deste tamanho desrespeito pelos cidadãos portugueses virá amanhã alguém à televisão pedir para cumprirmos as regras sanitárias, mantermos o distanciamento social, continuarmos a usar máscara porque a pandemia ainda existe, as novas variantes andam por aí e são mais contagiosas? Com que moral? Congelámos as medidas sanitárias durante 48 horas de uma forma vergonhosa e, acima de tudo, com promessas de bolhas para os dois grupos de adeptos ingleses que não existiram.

Meus senhores! Estamos ainda em plena pandemia. Ainda não atingimos a imunidade de grupo. Mesmo com milhões de doses de vacinas já aplicadas temos de continuar a trabalhar em conjunto para conter a propagação do vírus.

Aquilo que foi feito em Lisboa e agora no Porto, sem bolhas sanitárias, sem respeito pelo trabalho e esforço que pediram e pedem aos portugueses, foi uma vergonha! Mas os responsáveis safam-se sempre e amanhã já estarão a planear outro projeto, fruto do “sucesso” anterior.

E assim tem sido a história deste país em relação aos erros grosseiros e sem consequências na sua grande maioria para quem os pratica. A tática é muito simples: deixar o tempo passar, apostar na memória curta das pessoas e esperar que todas estas asneiras caiam naturalmente no esquecimento. Espero que ninguém se esqueça que em Lisboa e agora no Porto tivemos um intervalo para o futebol e tudo foi permitido e autorizado porque tivemos várias bolhas “imaginárias”, criadas e bem planeadas pela organização.

Foi, sem dúvida, um sucesso desportivo fantástico, uma imagem para o exterior de organização e um exemplo de cumprimento integral do plano sanitário.

Com as tais bolhas conseguimos estes resultados. Como teria sido, se não tivéssemos planeado as bolhas sanitárias para os nossos amigos ingleses? Ainda bem que temos pessoas em Portugal que cumprem o plano na íntegra, o tal que passaram aos cidadãos e aos media quando foi anunciada que a final da Liga dos Campeões teria lugar no Porto. Que venham mais planos destes! Foi um evento glamoroso, tecnicamente perfeito!