*Versão francesa de “bode expiatório”. Em tudo igual ao bode expiatório português, mas em muito mais fino. E em muito mais caro de indemnizar quando despedido sem justa causa. Porque se queremos finesse desembolsamos, como é óbvio.

Ao contrário do que o título faria supor, começo com boas notícias envolvendo gauleses e meios de transporte. Foi com inegável surpresa que, vinda de Paris, recebi uma notícia que representa um salto enorme para a Humanidade. Já não era sem tempo, ó franciús, de darem um contributozinho positivo para a espécie humana. Que o mil-folhas já vem do século XVII.

Na sequência de um referendo, a Câmara Municipal de Paris acabou com as trotinetes eléctricas, por estarem na origem de inúmeros acidentes. Espera, as trotinetes causam imensos acidentes? Mas como assim? Desta não estava à espera, ouviste. Quem poderia prever que permitir-se que pessoas basicamente a andar a pé, mas em cima de um brinquedo, no meio de estradas construídas para serem utilizados por automóveis, daria mau resultado? Toda a gente, claro. Menos os eventuais trotineteiros profissionais, a quem a ideia terá parecido fenomenal à força de tanta cabeçada dada em calçadas várias. E menos os restantes fundamentalistas-esquerdistas-progressistas-ecologistas, cujo discernimento é equivalente ao dos anteriores, sem que para tal tenham sido sequer necessárias as referidas cabeçadas. Tendo bastado a frequência de um ou outro acampamento de verão do Bloco de Esquerda.

Portanto, nós que, historicamente, tivemos a infelicidade de importar tantas péssimas ideias de França, talvez tenhamos agora a sorte de receber uma ideia que, Dieu seul sait (grato, Google Tradutor) como, viu a luz do dia. Viu a luz do dia, na cidade Luz. De dia. Mais precisamente no último domingo. Agora é só esperar que, do banir das trotinetes, se passe, rapidamente e em força, para o banir também das bicicletas em tudo o que é estrada. E talvez assim comecemos a vislumbrar alguma sanidade ao fundo deste túnel sado-masoquista de retrocesso civilizacional. Túnel do qual sairemos, em estilo, ao volante de potentes veículos alimentados por ruidosos motores de combustão interna, com inúmeros cilindros e consumo médio de 27 litros por cada 10 quilómetros.

Quanto à senhora Christine Ourmières-Widener, uma palavra de consolo. É verdade que não se livrará de ser o bode expiatório das incontáveis trafulhices deste governo. Mas estará bem acompanhada ao nível das referências zoológicas pelas esquálidas vacas leiteiras que são os contribuintes aos quais o governo esmifra os incontáveis milhões que despeja na TAP, e pelos incontáveis patos que continuarão a dar vitórias eleitorais ao Partido Socialista. Patos que, amiúde, acumulam com a antes referida condição de mero gado vacum. Mas isso já são casos clínicos, em relação aos quais não tenho habilitações para me pronunciar. E se eu considero ter habilitações para me pronunciar sobre tanta coisa.

Já agora, e muito, muito remotamente a propósito de gente que se pronuncia. Uma referência aos selvagens que, em Lisboa, manifestaram as suas preocupações com a habitação, por intermédio do arremesso de tochas e garrafas de vidro contra as forças de segurança, e da destruição de vários estabelecimentos comerciais. Que é, normalmente, o que se faz, sempre que o objectivo é explanar preocupações com a habitação. Uma pessoa está preocupada com a falta de habitação, sai à rua, parte tudo o que lhe aparece à frente, e depois fica a torcer para ser levado para um daqueles condomínios em que se preza tanto a segurança dos inquilinos que não se lhes dá mais de uma hora por dia para saírem do seu T0 equipado com uma sanita de ferro e vista aos quadradinhos para um saguão repleto de infiltrações e cheiro a mofo. Ou a bafio.

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