Na semana de tomada de posse do XXIII governo constitucional, apercebemo-nos de que o mesmo é uma espécime de distribuição de lugares pelos clientes da casa.

O restaurante é o aparelho do Estado, onde só come quem tem o cartão da casa – o do PS, claro está. O gerente é António Costa: o homem dos sete ofícios ou dos onze motoristas.

Todos o conhecem pela sua escola no carreirismo político, mas a sua verdadeira especialidade é satisfazer o apetite voraz dos que por ali passam todos os dias, seja numa câmara municipal, seja no governo.

Ao balcão está sentado um famoso cliente. É daqueles que quando se senta já não precisa de dizer o que quer, pois basta um simples “é o do costume”. Nada a recriminar até aqui, pois são milhares os portugueses que o fazem na sua hora de almoço. A diferença está no que se pede – para os portugueses vem um prato de iscas e um copo de tinto, para Adão e Silva vem um cargo político.

Na mesa do canto, Fernando Medina aguarda impávida e serenamente pelo seu strogonoff, um prato russo recomendado pelo seu amigo Vladimir Putin numa conversa meramente circunstancial entre ambos depois de uma manifestação em Lisboa. O novo ministro das Finanças era amante de cozinha regional, mas ao que consta fartou-se (ou fartaram-se dele), pelo que o regional deu lugar ao ministerial – faz lembrar a velha máxima de que à fome não se morre com um tacho de comida à frente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na mesa ao lado senta-se um senhor que encontrou o restaurante por acaso. Duarte Cordeiro percebe tanto de ambiente como eu de vinho – faço sempre aquele acenar de cabeça confrangedor ao empregado de mesa seguido de um “pode servir” seja lá o que for. E será assim, a olho, que uma das pastas mais importantes de um governo no século XXI vai ser gerida por um cliente de longa data.

Olhando à volta, neste restaurante, o ambiente é de amena cavaqueira. Pais e filhos sentados à mesa, famílias juntas em confraternização e um sentimento de impunidade que se confunde com o cheiro a esturro que invade os nossos narizes.

Até teria alguma piada se efectivamente se tratasse de uma daquelas críticas gastronómicas que nos fazem salivar durante uma cross reading do dia a dia, mas infelizmente não o é. O restaurante é o Estado, as clientelas são as mesmas de sempre e os prejudicados são os Portugueses.