Sim, todos temos medo de uma eventual pandemia. E todos temos medo dos nossos países não estarem preparados para lidar com a dimensão desse problema. Todos temos medo dos impactos econômicos que o coronavírus pode causar. Sim, há muitos aspectos para nos preocuparmos.

Mas reparo que, no fundo, o nosso maior medo acerca desse vírus não está relacionado com as decisões dos governos, nem com os riscos financeiros ou com as manifestações das organizações internacionais. O que mais nos assombra a respeito desse assunto tem a ver com amor.

Quando ouvimos que o índice de mortalidade é alto entre os mais velhos, imaginamos automaticamente os nossos pais, nossos avós. Pensamos na saúde deles, em suas fragilidades e outros pontos fracos. E quando pensamos em locais de possível contaminação, pensamos nas escolas ou universidades na quais estudam nossos filhos, sobrinhos, netos.

E quando pensamos na China, na Itália, nos aeroportos lotados ou em qualquer outro lugar onde os números e as probabilidades assustam, pensamos logo nos nossos amigos ou familiares que por ali vivem ou por ali passaram. Damos recomendações óbvias a eles: se cuidem, lavem as mãos, usem máscaras. Como se eles não soubessem.

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No fim das contas, quase todo nosso medo é fruto do nosso amor. O nosso pânico, acima de tudo, é de pensar em perder as pessoas que amamos ou de imaginá-las sofrendo de alguma maneira. Quando falamos em coronavírus ou em qualquer outra ameaça que fuja ao nosso controle, sentimos a vulnerabilidade do amor e a angústia de, às vezes, não poder fazer quase nada.

Ocorre que as pessoas não costumam estar muito conscientes disso. Esbravejam, impacientes, com seus pais ou avós que não seguem à risca todas as recomendações que julgam necessárias. Chamam a atenção das crianças de forma bruta, dizendo para lavarem suas mãos por causa do vírus, causando mais medo do que conforto. Suas preocupações que são frutos do afeto nem sempre são propriamente afetuosas.

Não adianta entrar em pânico, nem faz sentido surtar. Os medos são compreensíveis. Mas que sentido faz temer pela vida das pessoas que amamos se, enquanto elas estão conosco, saudáveis, nós nem sempre aproveitamos como devemos nosso tempo ao lado delas? Que sentido faz semear o medo na família em vez de aproveitarmos esse tempo para lhes dizer o quanto eles são importantes?

Parem de repassar informação pouco confiável em grupos de whatsapp. Essas formas de “cuidar” não ajudam ninguém. Busquem fontes fiáveis, organizações internacionais, portais de órgãos públicos, jornais conhecidos. E, mais do que mandar instruções, mandem mensagens de afeto. Não como despedida. Mas como rotina.

Lavem bem as suas mãos. Tomem todos os cuidados essenciais. Mas lembrem-se que a hora de aproveitar as pessoas que amamos é agora, e não só quando um problema- o a mera hipótese dele- se instaura. Menos pânico, mais afeto. Essa fórmula raramente dá errado.