Novembro assinalou mais uma edição da COP, mas este ano com expectativas muito moderadas em relação aos três pontos-chave em discussão: os compromissos para se alcançar o tão impactante número de 1,5°, referente ao limite do aquecimento global até 2100, o financiamento das iniciativas de adaptação às condições climáticas do futuro, e o apoio aos países mais vulneráveis às alterações climáticas. A elevada adesão à COP27 demonstrou a preocupação e a motivação de governos, empresas e outras partes interessadas na descarbonização das economias e na preparação das sociedades para os cenários de catástrofes naturais consequentes do aumento da temperatura global. Contudo, passados 12 dias, foram necessárias horas extraordinárias para se obter um compromisso que permita fazer um balanço positivo desta cimeira. O futuro do planeta exigia que todas as horas tivessem sido extraordinárias.

Na dimensão relacionada com os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5° até 2100, há ainda um grande percurso a fazer. Os governos concordaram, na COP26, em Glasgow, acelerar a ação climática, mas os progressos têm sido moderados, em grande parte devido à crise energética, à inflação e à instabilidade política e económica provocadas pela guerra na Ucrânia. Após uma nova cimeira, as partes não conseguiram aumentar a ambição nacional e pouco foi feito para colmatar a lacuna política. Assim, o objetivo de limitar as temperaturas médias globais mantém-se, mas é muito improvável, dado que as emissões têm de diminuir 45% até 2030, mas deverão aumentar 11%. Isto significa que poderemos alcançar um ponto de não retorno, que se traduzirá no colapso da Gronelândia, acelerando o aquecimento e a subida do nível da água do mar, na extinção de corais de recifes de baixa latitude, que devastaria recursos piscatórios, entre outros. É, assim, claro para todos que uma mudança e um foco na implementação é fulcral, passando de promessas a projetos concretos, assegurar um mecanismo de monitorização dos progressos e apelar a uma maior responsabilização tanto dos governos como das empresas.

A COP27 teve um papel preponderante na elevação das preocupações em relação aos países do Sul, incluindo a adaptação, água, alimentação, transição justa, e, o mais importante, um acordo para estabelecer um mecanismo financeiro destinado a perdas e danos. Este desfecho positivo foi inesperado, dado o contexto desafiante das negociações, o estreito mandato e as baixas expectativas. Sobra uma questão que entrará na agenda da COP28: como deverá ser estruturado este mecanismo financeiro e quem deverá contribuir para o seu financiamento?

Registou-se também uma discussão financeira mais sofisticada, incluindo pacotes para a Indonésia e o Egito, e um impulso para a reforma do FMI e dos bancos multilaterais de desenvolvimento, com o presidente francês Emmanuel Macron e a primeira-ministra de Barbados Mia Mottley a colaborar na Iniciativa Bridgetown. No entanto, permanece um défice financeiro acima dos 3 biliões de dólares.

Em suma, apesar dos discursos mais derrotistas, a COP27 foi um bom momento de reflexão e análise dos desafios que os países estão a enfrentar, e foi palco de decisões importantes relacionadas com os apoios aos países mais vulneráveis às inevitáveis consequências do aquecimento global. Já a falta de progresso e de decisões estruturais definiu a agenda da COP28, ainda antes de esta arrancar, nomeadamente, no que se refere a assegurar a produtividade e resiliência alimentar, ao mesmo tempo que se reduz o seu impacto no clima e na natureza, ou como reduzir os impactos gerados pelas águas, como consequência das alterações climáticas. A nível governamental, os líderes devem pensar como tornar os sistemas de saúde mais resilientes às alterações climáticas e como reduzir os seus impactos, e, a nível energético, como acelerar a transição energética e qual o papel do gás neste processo. A jornada da sustentabilidade ambiental ainda é longa e global, exigindo o compromisso e ação de todos.

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