Somos menos e estamos mais sozinhos. Somos mães e pais cada vez mais tarde. Há mais famílias; mas elas são mais pequenas. Há 92 divórcios por cada 100 casamentos. E divorciamo-nos mais durante a gravidez e no primeiro ano de vida. Há menos famílias numerosas e menos crianças. Há mais filhos de pais não casados. Há mais famílias reconstruídas. E mais crianças num regime de “os meus, os teus e os nossos”. Há 182 idosos por cada 100 jovens. E a idade média com que os jovens saem de casa dos pais é de quase 34 anos. Por cada um destes números repete-se que a família está em crise. Ou que há uma crise de valores. Mas será crise ou oportunidade?

Vista de dentro, há ainda uma nuvem de questões que se associam a todos estes números. A família cria laços e histórias. E tem pessoas que nos dão colo e exemplos. Que nos fazem sentir o melhor do mundo para alguém. Mas gera, também, tensões e conflitos. E coisas por dizer. Muitas das nossas dores mais agrestes são geradas pela família. E muito do que não queremos ser tem a ver com algumas das pessoas que fazem parte dela.

No meio de tantos desafios e de tão profundas transformações, a família é, hoje, igualmente, indispensável? Será ela, hoje, mais preponderante, considerando tudo o que nos traz? Ou, concorrendo com todas as mudanças, o seu papel quase se desvanece?

Quanto maior é a diversidade e a mudança mais indispensáveis são as pessoas que nos fazem sentir em casa. Por isso mesmo, a família é, hoje, ainda mais indispensável! Porque o nosso equilíbrio depende daquilo que ela nos dá. E da tenacidade de irmos à procura daquilo em que acreditamos. Que tem tudo a ver com os momentos de comunhão que ela nos traz!

Não, a família não está em crise. A família, hoje, faz-se mais (ainda!) de laços que se aprofundam. E menos daquilo que, desde sempre, se instituiu que seria “imutável” naquilo para que ela servia. Porque, no meio de tudo o que parece fugaz e frágil, a família continua a ser todas as pessoas com um lugar na primeira fila do nosso coração. E é – hoje mais, sem dúvida – o plural e o singular daquilo que sentimos. O sindicato da bondade. O laboratório do amor. E, ontem como hoje, a reserva natural da verdade.

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