No jogo da dança das cadeiras há um assento a menos que o número de participantes que param de correr à roda, e se sentam, no momento em que a música se cala. Perde o que fica de pé. É o que está a acontecer no PS com uma série de actores políticos envolvidos na sucessão de António Costa. A música por agora é o SIS (volta não volta põem a TAP, outras vezes os casos na Câmara Municipal de Lisboa) e  alguns dos socialistas mais ilustres correm em redor de cadeiras dispostas em círculo sabendo que falta uma e que, finda a música, um deles salta fora.

O primeiro a sair é provável que seja João Galamba. De todos é o elo mais fraco por estar no PS há menos tempo que os restantes. No entretanto, o Primeiro-Ministro usou Galamba como escudo, à semelhança do que fez com Constança Urbano de Sousa. Ao não aceitar a demissão do ministro, António Costa voltou a personalizar a crítica: o problema não é o PS nem o governo; é aquele ministro em concreto. E para juntar o útil ao agradável também o aproveitou como arma de arremesso contra o Presidente da República, com vista a forçá-lo a não falar mais de dissolução da Assembleia da República. Terminada a utilidade do ministro das infra-estruturas, o PS prepara já a narrativa para o enterrar: para todos os efeitos (e objectivos que agora dão jeito) Galamba mentiu à comissão parlamentar de inquérito. António Costa não tem nada a ver com isso porque a decisão de o manter no governo foi tomada antes da audição parlamentar do ministro. Quem sabe, António Costa até contribuiu com algumas sugestões na construção desta nova conveniente composição dos factos. Não devemos esquecer que reconstruir a verdade dá trabalho e nesta matéria todo o cuidado é pouco. Ou nenhum.

A próxima vítima será uma das seguintes: Ana Catarina Mendes, António Mendonça Mendes, Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Duarte Cordeiro ou Pedro Nuno Santos. Houve uma altura em que a maioria dos concorrentes julgou que Pedro Nuno Santos tinha perdido, mas este conseguiu escapar a tempo. Agora é o que parece mais seguro de si: afastado do governo, lavou as mãos dos milhões que estoirou na TAP e até sugeriu que o governo PSD foi enganado por David Neeleman e o então director-executivo da companhia, Fernando Pinto. Longe do governo, Pedro Nuno Santos sente-se revigorado e perfeitamente capaz de continuar a correr à volta do círculo do poder e focado para se sentar logo que a música pare. É de longe o mais perigoso dos socialistas porque fala dos milhões de euros dos contribuintes como um miúdo fala da fortuna do pai.

Tal como na dança das cadeiras a que brincávamos quando éramos crianças, não é possível antecipar qual o próximo socialista a ficar sem o lugar. Uma coisa é certa: o espectáculo dura até António Costa decidir que é tempo de ir embora. Até acredito que o Primeiro-Ministro esteja satisfeito com o jogo. Não só deve ser engraçado ver os jovens que formou a correr aos círculos mas também, enquanto a dança dura, ninguém o chateia e fica à vontade a planear a sua vida para depois disto tudo.

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