O setor imobiliário é tradicionalmente conservador, no entanto, nos últimos dois anos, assistimos à transformação digital que tanto se esperava, e mais cedo do que se previa, em grande parte devido à consolidação das Proptechs (Property Technology), empresas que combinam e adicionam tecnologia ao seu modelo de negócio imobiliário.

A pandemia da Covid-19 acelerou a digitalização desta indústria por haver uma urgência para completar um processo que sempre foi definido pelas suas burocracias, por vezes intermináveis. Há três perspetivas a ter em conta nesta aceleração: os negócios imobiliários de compra, venda e arrendamento, a procura dos clientes e a procura dos proprietários.

As empresas do setor imobiliário, que tradicionalmente apostavam em visitas presenciais às casas com agentes, viram o seu negócio a escassear abruptamente no início da pandemia, o que levou a uma adaptação rápida e forçada de todos os procedimentos relativos à compra, venda e arrendamentos de casas. Os negócios começaram a perceber que o online veio para ficar e que o próprio setor tinha que se tornar mais otimizado. Recordemos como eram caracterizadas estas empresas no passado: pela falta de transparência nos preços e também por não conseguirem agregar toda a sua oferta num só local. Em vez disso, as múltiplas agências imobiliárias tinham a oferta segmentada e indisponível para a maior parte dos clientes, algo que funcionava como um grande entrave para a maioria das pessoas.

A digitalização do setor e as plataformas online de compra e venda e arrendamento trouxeram um elemento novo a estas empresas: a possibilidade de ter o seu negócio disponível para uma quantidade de clientes nunca antes vista. Arrisco mais: estes negócios personalizaram verdadeiramente a sua oferta e conseguiram estar, literalmente, à distância de um clique de potenciais clientes. Estas novas opções que chegaram ao mercado imobiliário facilitaram o processo de procura e, consequentemente, de compra. Prova disso são os números de casas vendidas nos últimos tempos em Portugal, com 96 mil casas vendidas no primeiro semestre de 2021 a comparar com 86 mil casas no primeiro semestre de 2019, um aumento de 11%, segundo dados do INE.

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A experiência para comprar ou arrendar casa, por sua vez, melhorou exponencialmente ao longo deste processo de, chamemos-lhe, modernização. As pessoas, que não podiam sair de casa por causa da pandemia, não ficaram impedidos de ver casas e puderam continuar a sua busca. A forma como compramos e arrendamos uma casa mudou com novos players no mercado, que passaram a disponibilizar todos os imóveis num só local e foram capazes de se adaptar às necessidades diferentes de cada um. A digitalização de contratos e documentos, a inteligência artificial e o machine learning tornaram- se uma realidade durante a pandemia e tornaram-se essenciais para este processo. No fundo, estas plataformas permitiram tornar o mercado mais honesto, mais acessível a todos e com preços mais justos.

Mas não foram só os arrendatários a sentir esta transformação. Os proprietários viram a sua vida mais facilitada quando perceberam que podiam utilizar as várias plataformas consoante diferentes necessidades Por exemplo, tornou-se possível atualizar a sua oferta consoante valores reais do mercado ao mesmo tempo que passaram a ser possíveis visitas “virtuais” às casas de qualquer parte do mundo.

A inevitável digitalização do setor imobiliário apenas foi acelerada pela pandemia. Seria sempre uma nova realidade que, como sabemos hoje, veio para ficar. Vemos que os negócios imobiliários têm vindo a aceitar as ferramentas digitais, a reconhecer as suas vantagens e a aderir com entusiasmo a esta transformação em grande escala. Com o acesso a estas ferramentas, as empresas que estão dispostas a testar, sempre com a consciência da possibilidade de falhar, são também as que têm mais probabilidade em desenvolver soluções inovadoras para o setor. Esta tendência vai continuar a aumentar durante no ano de 2022, com os níveis de investimento a voltar aos valores pré-pandemia, no patamar dos 3 mil milhões de euros, e com o aumento da taxa de emprego e a diminuição da taxa de desemprego, sendo alguns estudos de mercado que vemos publicados.

Estas soluções digitais permitem grandes mudanças dentro da indústria e na maneira como os profissionais trabalham. A transformação do setor já estava a ocorrer a um ritmo mais lento antes da pandemia, mas com a mudança de paradigma no mundo foi necessário também haver uma adaptação da oferta e do processo de compra e arrendamento.