Temos vozes de desencontro na pedagogia em tempos de pandemia, mas convergimos na educação a distância para construirmos um novo percurso e, deste modo, ultrapassarmos os constrangimentos nas práticas do ensino presencial.

A educação a distância constitui uma forma de aproximação social e cognitiva nos novos cenários e contextos de aprendizagem em rede, em particular, no tempo que vivemos.

O ensino presencial tem uma pedagogia baseada num modelo curricular essencialmente normativo que tem como referência o pensamento da sociedade disciplinar. O ensino a distância também seguiu este modelo, na sua fase inicial, mas soube ultrapassar esta limitação e construir a inovação curricular e pedagógica, em particular, através da educação aberta e em rede, que hoje se afirma como um espaço de liberdade na experiência social e cognitiva do conhecimento na valorização das comunidades de aprendizagem colaborativa.

Deste modo, a educação a distância constitui, hoje em dia, a expressão da promoção da proximidade virtual entre os membros da comunidade de aprendizagem.

Um espaço construído nos contextos de aprendizagem e que se consubstancia na diversidade social e cultural para a educação em rede.

Por esta razão, a educação a distância é a maior oportunidade para construir a pertença à comunidade em rede na aprendizagem formal, informal e ao longo da vida.

Promover o desenvolvimento da educação no regime não presencial constitui o maior desafio para a comunidade dos professores e estudantes, neste momento de constrangimento social. Estamos a enfrentar o desafio da imposição das distâncias físicas e da diluição das culturais que se afirmam na emergência das proximidades digitais, as quais constituem os cenários e os contextos para o desenvolvimento das redes de ensino e aprendizagem virtuais.

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Transformar a proximidade digital no meio para a valorização da expressão da interação social e cognitiva, constitui o momento gerador do sentido para inovarmos a educação na sociedade digital e em rede.

Vivemos um momento particularmente importante, pois as experiências massivas que estão a ocorrer em regime online em todas as instituições e níveis de ensino, as quais merecem o meu maior reconhecimento, permitem a emergência de um novo olhar sobre o potencial da educação a distância na sociedade em rede. Um olhar que creio virá a constituir o foco do desenvolvimento de uma nova atitude de abertura social para a educação como um processo social e cognitivo realizado nos ambientes virtuais.

Temos, por tradição, como referência a sala de aula presencial que se baseia no modelo de transmissão, sendo pouco acolhidas as experiências dos contextos de conhecimento realizados para além do modelo normativo o qual tem a sua maior expressão no manual. Neste, é descrito o papel dos aprendentes como atores; na experiência de aprendizagem em contexto, pelo contrário, os atores transformam-se em autores na criação do novo conhecimento individual e coletivo, pois têm no modelo conversacional e colaborativo o seu principal meio de interação para se constituírem como agentes interventores nos processos de inovação na comunidade de aprendizagem.

Esta é a essência da diferença na pedagogia entre os modelos presencial e a distância, a qual teremos de continuar a desenvolver para promover a sustentabilidade do diálogo entre a educação presencial e a distância.

É também um desafio maior que não se concretizará através da simples migração das práticas do ensino presencial para os ambientes virtuais e em rede. O desafio que enfrentamos consiste na mudança das representações sociais e culturais para a sustentabilidade das práticas de educação nos territórios virtuais, nos quais a colaboração, andaimagem social e cognitiva, e a mediação pedagógica constituem os principais meios para a experiência colaborativa e entre pares na criação das narrativas de aprendizagem e conhecimento.

Este é o enquadramento que se tem vindo a implementar, no âmbito dos programas de desenvolvimento europeu e a nível mundial, para a mudança das práticas de ensino na educação presencial, as quais procuram integrar as abordagens da educação a distância e em rede nas instituições com matriz no ensino presencial para melhor responderem aos desafios do ensino e aprendizagem na sociedade digital

Mas o mais importante, neste momento, consiste em promovermos a coerência do pensamento na educação para a sociedade em rede. As expressões das geografias físicas são ultrapassadas pelo pensamento líquido da economia do conhecimento nas redes virtuais, o que nos obriga a refletir sobre o modelo de conceção das nossas instituições de ensino.

É sob este enquadramento que têm vindo a ser promovidas as mudanças das práticas de ensino na universidade presencial, as quais procuram integrar as abordagens da educação a distância e em rede para melhor responderem aos desafios do ensino e aprendizagem na sociedade digital.

A aprendizagem e criação do conhecimento em rede constituem a emergência da soberania na sociedade global e uma outra autonomia da comunidade na criação do saber na sociedade digital. Uma soberania responsável e construída na inclusão social, cultural e na criação colaborativa do conhecimento.

Por esta razão, a educação em todos os níveis de ensino e, em particular, na universidade, não poderá deixar de ser aberta, o que significa estar em rede.

A universidade de hoje não é mais o centro do mundo do conhecimento, como a conhecemos na tradição do pensamento nesta matéria, mas um ponto focal na rede de conhecimento global. E creio que a rede de ensino superior português, no presente, saberá entender aos atuais constrangimentos como desafios para construir um programa intenso de colaboração entre as instituições que lhe permita a afirmação de uma voz com valor na economia do conhecimento em rede, não só em língua portuguesa como na partilha com outras comunidades.

Os processos de globalização promovem a diluição das fronteiras sociais e culturais no acesso aos contextos de aprendizagem e criação do conhecimento. Desenham, deste modo, uma nova representação para a educação, cujo acesso aberto constitui, assim, o maior capital para o desenvolvimento presente e futuro nos domínios social, cultural e científico na sociedade do conhecimento em rede.

A Universidade Aberta de Portugal tem vindo a promover esta ação no mundo da língua portuguesa e na reunião das universidades dos países que desenvolvem o conhecimento em língua portuguesa no âmbito da Associação de Educação a Distância dos Países de Língua Portuguesa, constituída em 2018, com o apoio da CPLP.

Os cenários de internacionalização da criação e transferência de conhecimento em língua portuguesa são a expressão do novo pensamento para a universidade na Sociedade Digital, quando analisados no quadro das formas emergentes da aprendizagem e criação de conhecimento em rede. A internacionalização, mais do que a abertura do campus à comunidade externa, constitui uma forma de levar este mesmo campus ao estudante, em qualquer lugar no mundo, e, deste modo, promover a proximidade social e cognitiva, a partilha dos territórios de aprendizagem e o conhecimento sem barreiras de qualquer tipo ou natureza.

Este é o momento para construirmos o futuro do conhecimento em língua portuguesa e afirmarmos que a língua é uma partilha social e cultural para sermos uma comunidade de conhecimento com valor na sociedade em rede.

A universidade do futuro será a que soubermos pensar e construir hoje, na mudança do lugar físico para o virtual, no diálogo entre o local e o global, será uma organização aprendente com um pensamento sustentado nas dinâmicas das redes de experiência e inovação na criação do conhecimento.

Aprender em rede não é uma expressão do passado, nem do presente, mas a visão do futuro que estamos a construir na Educação a Distância hoje.