Portugal encontra-se numa encruzilhada. As escolhas que as elites políticas e económicas fizerem nos próximos anos determinarão, em grande medida, o futuro do país nas próximas décadas. A situação política e económica do país é delicada. Um sistema financeiro descapitalizado, uma população relativamente pouco educada e fortemente envelhecida, um sistema de pensões que corre – a prazo – o risco de implodir.

Tal como em 1974 o Estado Novo se havia deixado encurralar, com uma guerra perdida em África, com umas Forças Armadas de rastos e um embrião de classe média urbana com aspirações europeias e de desenvolvimento, o regime actual está encurralado, apesar das loas que os intelectuais do regime continuam a tecer nos jornais e nas redes diariamente. Nos últimos 20 anos, o país está em divergência com a União Europeia, tendo utilizado um misto de empréstimos e de fundos europeus para ir (tentando) esconder a situação e manter o nível de vida da população.

A direita reuniu-se na semana passada para debater o futuro, o seu e o do país. Infelizmente, do país ouvimos falar muito pouco, apesar dos destinos da direita e do país estarem indelevelmente ligados. Apesar dos prestidigitador Costa pretender que não, o centro esquerda e direita moderados são indispensáveis para Portugal sair do impasse actual. A democracia portuguesa foi construída apesar da extrema-esquerda e não devido à extrema-esquerda.

Com honrosas excepções, as intervenções no Movimento Europa e Liberdade (MEL) foram paupérrimas, quer do ponto de vista intelectual e programático. Não há uma ideia nem um modelo de desenvolvimento para o país, para além da rejeição do socialismo (enquanto ideia e na sua declinação partidária portuguesa). Todavia, apesar da fraqueza das intervenções, houve uma ideia que perpassou toda a convenção do MEL: a rejeição do actual estado de coisas. Existe ainda em Portugal um grupo de gente que está suficientemente alerta e lúcida para perceber o caminho de abismo para o qual o país caminha. Não sejamos ingénuos, porém. No grupo de gente no MEL há gente que rejeita o actual estado de coisas por genuína convicção e crença na mudança, mas também há quem apenas deseje substituir os “tachos” e negócios socialistas com os “tachos” e negócios laranjas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Infelizmente, esta é a mesma direita que continua a ver em Passos Coelho um salvador, algo que me deixa profundamente perplexo. As reacções pavlovianas no MEL, de um ribombar de palmas quando se pronunciava o nome do salvador, são verdadeiramente estranhas. Não há uma única indicação empírica de que Passos Coelho tivesse qualquer acolhimento no eleitorado ou, como ouvi, que fosse capaz de acabar com o Iniciativa Liberal e o Chega. De resto, quando saiu da liderança do Governo, e, mais tarde, do PSD, Passos Coelho era o Primeiro-Mministro mais impopular de sempre. Assim como a esquerda precisou de ultrapassar o seu momento PEC IV, a direita precisa de ultrapassar o seu momento 2015 e seguir em frente.

Para além de ultrapassar a miragem salvífica de Passos Coelho, a direita precisa de ir muito para além dos temas clássicos da economia e finanças. Assisti na íntegra ao discurso de Rui Rio no MEL e, devo dizer, achei a aula de finanças públicas francamente soporífera. A direita necessita, naturalmente, de ter um discurso bem articulado sobre a economia e o modelo de desenvolvimento do país. Porém, no imediato, a direita necessita de captar intelectuais, quadros universitários, artistas, jornalistas para formar um movimento orgânico capaz de derrotar o socialismo que capturou de forma vertical e horizontal o aparelho político e social do país.

Num país como Portugal, a construção do dito movimento orgânico é difícil, senão impossível, na medida em que este constrói-se de forma transacional. Isto é, os corpos intermédios da sociedade apoiam fortemente o socialismo porque sabem que é daí que poderão retirar benefícios materiais tangíveis para a sua carreira, a qual, num país alicerçado no Estado, passa necessariamente por sinecuras neste ou pagas por este. Todavia, mesmo sem ter o aparelho de Estado ao seu dispor para trocar favores, a direita tem de responder à encruzilhada no país. Tem de responder às perguntas difíceis. Qual a política alternativa da direita para a Ciência, que tem sido francamente um desastre nos últimos anos? E para as alterações climáticas e meio ambiente, para além dos subsídios do actual ministro? Será que a direita tem um modelo de desenvolvimento alternativo que vá para além dos impostos altos e serviços públicos medíocres? Será que utilizar mais 500 milhões de euros para construir estradas, de acordo com o plano da bazuca, é a forma mais inteligente de gastarmos o dinheiro em 2021? As respostas a estas perguntas ditarão os próximos 50 anos do país.