António Costa deu uma entrevista à TVI/CNN. A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Pedro Santos Guerreiro e José Alberto Carvalho.

Penso que o objectivo da entrevista não foi atingido: a má imagem com que António Costa ficou após a prestação extra/adiantamento/corte das pensões, não foi reparada.

Entre a esperada propaganda ao seu governo e tudo quanto não disse, ficámos a saber quase o mesmo que sabíamos antes da entrevista – e o «quase» é termos passado a ter conhecimento do diálogo que mantém com Luís Montenegro sobre o novo aeroporto.

Confrontado com a questão da actualização das pensões, o Primeiro-Ministro recusou a opacidade da sua intervenção aquando da apresentação do programa Famílias Primeiro e a forma como iludiu, então, não apenas os pensionistas, seus eleitores, mas também a verdade quanto à sustentabilidade da Segurança Social, a tal que não estava em causa até estar. Sem dizer, no entanto, como pretende reforçar essa sustentabilidade doutra forma para além dos cortes nas pensões. (E não, não foi o seu governo que acrescentou 26 anos à S.S., foram os contribuintes, esses que nem merecem saber o que acontecerá em 2024. Os mesmo que viverão para o resto das suas vidas, e isto é iniludível, com perdas reais de rendimento. Sim, há o dever de solidariedade inter-geracional, mas também há o dever dizer a verdade.)

O empobrecimento real, ano após ano, daqueles que lhe deram a maioria absoluta, com a manutenção de baixos salários na função pública, com aumentos iguais à inflação, em tempos de baixíssima inflação, e arrastando com a função pública o privado, é reforçado agora. Esperam-se aumentos de 2%. Repito 2%. Eu não sou economista – mas a minha irmã é. Explicou-me. É, com esta inflação, perder um salário num ano. Nem nos tempos da troika. E nem assim, em momento algum, António Costa referiu contemplar a redução dos impostos desta classe média baixa que são quase todos os portugueses, excepto os ricos que em Portugal são, pasme-se, todos os que ganham mais de 2700 euros brutos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quanto à taxação dos lucros extraordinários das energéticas, «não excluímos nem decidimos», depende dos outros. Ni fu ni fa, faço o que tu disseres, pá. Esperemos pela Alemanha, pela Itália… e tal como com as atempadíssimas medidas do programaFamílias Primeiro seremos os últimos, a não ser que a aplicação seja concertada pela UE. Quanto às empresas, e IPSS, suponho, saberemos dia 15. Aguardemos expectantes.

E uma dúvida: não houve opacidade com os números da saúde? Há mais 20% de profissionais no SNS? Ou estão a contabilizar os números dos profissionais integrados com fim das PPP? E o que dizer do novo Ministro do Aparelho, perdão, da Saúde? Ainda no tema ministros: é confrangedor que Pedro Nuno Santos, «o executor», não se demita.

Nas questões avulsas: folgo muito em saber que com ou sem Macron, por terra ou por mar, haverá gasoduto. E devo confessar que, do meu ponto de vista, e ao contrário do de António Costa, numa guerra há vencedores e vencidos.

No desenvolvimento social, na economia, na cultura, também. E após 20 e tal anos de PS, os vencidos somos nós.

A autora escreve segundo a antiga ortografia