A Educação, sendo um dos pilares da sociedade, sofre a par de todos os outros setores um abalo enorme resultante do terramoto global provocado pela pandemia de Covid-19. A jusante desse abalo, a escola, sendo o espaço de eleição para a operacionalização do sistema educativo, depara-se com o maior desafio de sempre.

Importa referir que, ao falarmos de escola, é redutor circunscrever o discurso ao espaço físico propriamente dito. A escola é muito mais do que quatro paredes. Olhemos para a escola como um ecossistema, em que para além do espaço físico temos a comunidade que nele se insere, cujos elementos desenvolvem um ambiente estável e harmonioso, favorável à concretização do objetivo a que se propõe. Ao falar de escola, referimo-nos a alunos, professores, assistentes técnicos e operacionais, famílias e restantes forças e entidades da comunidade envolvente.

De um dia para o outro, fomos obrigados a mudar em termos organizativos, a mudar práticas e a redefinir a forma de comunicar e de nos relacionarmos uns com os outros.

Os alunos vêm-se impossibilitados de frequentar o seu espaço social de eleição. O espaço em que todos os dias se procura mitigar qualquer tipo de assimetria social ou económica, proporcionando a todos os mesmos direitos e deveres. O espaço em que todas as crianças e adolescentes são acolhidos, sendo acauteladas todas as condições favoráveis à sua formação integral e segurança.

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Os pais/ encarregados de educação, não obstante todas as implicações que este momento provoca na sua vida profissional, têm como agravante a necessidade de se tornarem ainda mais disponíveis para os seus filhos/ educandos, procurando acompanhá-los e orientá-los como melhor sabem ou conseguem. São imensas variáveis a ter em conta na manutenção do equilíbrio emocional, social, económico e familiar.

Os professores, conscientes da sua responsabilidade social, estão a fazer, uma vez mais, algo que sempre fizeram bem: adaptam-se! Perante mais uma adversidade, estão disponíveis para cumprir a sua missão. É sobre os professores, mais concretamente daqueles com os quais trabalho diariamente que quero falar, convicto, porém, de que a generalidade das escolas se reverá nas minhas palavras.

Esta necessidade de reorganização exige um enorme envolvimento e um compromisso de todos para levar a cabo, em tão pouco tempo, um plano de ensino a distância. Aquando da suspensão das atividades letivas, o Agrupamento de Escolas de Freixo teve como preocupação imediata garantir que os alunos não perderiam a ligação à sua escola, procurando assim garantir a sensação de pertença e de identidade que sempre existiu neste agrupamento. Por isso, neste momento, o nosso foco e lema é transmitir aos alunos que “não estão sozinhos!”, transmitindo-lhes segurança e apoio. A partir deste ponto, e inerente ao processo de reorganização, os professores procedem a mudanças estratégicas e operacionais, tendo em conta os recursos materiais existentes na escola e à disposição dos alunos, a reorganização dos recursos humanos e os eventuais apoios externos que podem ser necessários em virtude de necessidades às quais a escola não consegue dar resposta, não esquecendo as consequências do impacto social e económico sobre as famílias.

Criámos, de acordo com as recomendações emanadas pela Direção Geral de Educação, uma equipa de apoio tecnológico e logístico, cujas tarefas imediatas foram o levantamento do número de alunos que não possuem um computador e/ ou uma ligação à Internet e o apoio aos alunos, pais/ encarregados de educação e professores durante a fase de implementação do plano de ensino a distância. E também uma equipa de apoio pedagógico e psicopedagógico, de caráter multidisciplinar, coadjuvada pelo Serviço de Psicologia e Orientação, cujas funções principais são prestar apoio aos docentes na preparação e validação de estratégias e recursos, estar atentos e prevenir toda e qualquer situação de fragilidade social e apoiar os alunos com medidas de suporte à aprendizagem adaptando tarefas e procedimentos.

Ainda com maior ênfase, temos em conta o Decreto-Lei n.º 54/2018 de 06 de julho, quando refere que a escola deve ser inclusiva “onde todos e cada um dos alunos, independentemente da sua situação pessoal e social, encontram respostas que lhes possibilitam a aquisição de um nível de educação e formação facilitadoras da sua plena inclusão social”. Só assim corresponderemos ao preconizado no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória. Importa nesta matéria não esquecer a importância do papel desempenhado pelo Serviço de Psicologia e Orientação e pela Equipa Multidisciplinar de Apoio À Educação Inclusiva que, apesar dos condicionalismos já aqui referidos, se mantêm operacionais para continuar a garantir o melhor suporte possível aos alunos com maiores fragilidades, através dos contactos regulares mantidos com estes e respetivas famílias e articulando com entidades externas no sentido de minimizar as situações de risco.

A criação de uma equipa de monitorização com a função de aferir a abrangência e a qualidade dos resultados das medidas implementadas, garante-nos a otimização dos recursos humanos e materiais. Definimos estratégias e circuitos de comunicação, elaborando uma mensagem assertiva e acautelando que os alunos e suas famílias são tratados de modo equitativo.

A nova caminhada ainda agora começou. Contudo, os passos dados já são bastante significativos, dos quais importa destacar:

  1. Todos os nossos alunos têm à sua disposição um computador, fruto de uma contribuição conjunta do agrupamento e do Município de Ponte de Lima, assegurando o mesmo Município ligações à Internet para os alunos que foram identificados com essa lacuna.
  2. Todos os alunos recebem um plano de trabalho semanal, elaborado com bom-senso e sensível aos constrangimentos provocados pelo distanciamento social;
  3. Os alunos são contactados regularmente com o objetivo de se assegurar, não só que eles continuam ligados à escola e aos seus professores, mas também que mantêm o equilíbrio emocional;
  4. Os docentes são acompanhados em permanência, no sentido de garantir que reúnem todas as condições e estabilidade para desenvolver o seu trabalho à distância.

A pandemia obrigou-nos a mudar e a inovar. Permitiu realçar o melhor de cada um de nós enquanto professores, mas também o melhor de cada uma das entidades que nos rodeiam na construção de um plano sério, realista e abrangente. Quero realçar a pronta disponibilidade manifestada pela Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Freixo no suporte à resolução de alguns problemas, bem como o papel do Município de Ponte de Lima e das juntas de freguesia da área de influência deste agrupamento. Estou certo de que, sem esta disponibilidade para colaborar, os nossos alunos ficariam a perder.

Não restam dúvidas de que a escola nunca mais será igual. Certamente renascerá ainda mais humanista, solidária e consciente da responsabilidade e do papel preponderante que tem na sociedade, sem descurar o desenvolvimento do conhecimento científico inerente às diferentes áreas disciplinares.

Seja presencialmente ou à distância, os professores continuarão a ser essenciais na implementação do sistema educativo. Os professores preocupam-se com o bem-estar dos seus alunos e são os primeiros a sentir satisfação com o sucesso dos mesmos.

Diretor do Agrupamento de Escolas de Freixo

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.