Quando o país deixou de estar mergulhado na ditadura, o analfabetismo era assustador. Em 1981 a população analfabeta era de 1.520.474. Um número demasiado elevado para um país que sonhava integrar a Comunidade Económica Europeia.

O combate ao analfabetismo fez-se com afinco dada a ânsia para apanhar o famoso comboio da europa. Contudo, a ensino começou a navegar ao sabor das campanhas eleitorais. Tornando-se num perigoso ioiô político. O que se tem revelando imprudente tendo em conta o peso da escola no combate às desigualdades sociais.

Importa reconhecer o papel da escola na anulação do contexto das crianças. Cabe à escola o importante papel de elevador social. Espera-se que esta retire a criança do nível onde se encontra e a coloque no nível acima. Sem armadilhas e sem encruzilhadas. Efetivamente, conseguimos democratizar o acesso ao ensino no pós 25 de abril, quer pela via da escola pública, quer pela via dos contratos de associação. Todavia, a escola, não tem conseguido anular o contexto, nem se tem posicionado como sendo um verdadeiro elevador social. Esta situação intricada que já estava patente antes de 2020 tende a agravar-se com o recente cenário pandémico.

De acordo com o estudo Portugal, Balanço Social 2021: Um retrato do país e de um ano de pandemia, onde é feito um balanço do período de encerramento das escolas para as crianças até aos 12 anos, temos conclusões alarmantes. Uma em cada quatro habitações tem problemas de infiltrações ou de humidade, cerca de 13% não tem aquecimento e 16% está sobrelotada. A par disto temos a variáveis como famílias monoparentais ou famílias numerosas, e a falta de rendimentos. Na alimentação concluiu-se que 9% dos alunos abaixo dos 12 anos não teve acesso a uma refeição saudável e 3% admitiu mesmo sentir fome durante o período de encerramento das escolas.

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Sabe-se que um período de três meses sem aulas leva à diminuição de 3% dos rendimentos futuros desses estudantes. O que esperar de dois anos letivos parcialmente encerrados?

Em Portugal, mais de metade dos adultos não têm o ensino secundário completo. Estamos a falar de 52% da população, quando a média europeia é de 22%. Esta é mais uma variável a ter em conta no contexto dos jovens. Pais menos escolarizados terão mais dificuldades em acompanhar a educação dos filhos, especialmente, durante o ensino à distância. Assim sendo, sabe-se que quando estas crianças chegarem aos 15 anos os 25% mais pobres apresentam resultados inferiores aos 25% mais ricos.

Tendo em conta a importância de todas estas variáveis seria importante investir-se nas escolas capacitando-as efetivamente para o combate às desigualdades. Mais do que debater se a escola deve ser pública ou privada, importa estruturar o ensino em Portugal. Ter um plano definido para o longo prazo o que implicaria colocar de lado as perigosas oscilações políticas.

Alexandre Homem de Cristo diz que a escola deve ser uma forma de combate á segregação, logo a mesma devia equilibrar grupos. Misturar grupos sociais, isto é, alunos beneficiários de ação social com alunos de outros escalões sociais, poderia diminuir a barreira do contexto social. Promover maior circulação e liberdade dos estudantes pelas diferentes realidades escolares dando, como por exemplo, liberdade aos pais para escolher as escolas onde querem os seus filhos pode ser uma ferramenta importante que ajude no combate das desigualdades. Retirar de um determinado contexto algumas crianças ajuda a que estas expandam horizontes e beneficiem do efeito grupo de forma positiva.

Um aluno do secundário no ensino público custa 6200 euros, já no colégio Efanor (um dos melhores do país) o custo é 5715 euros. Qual destes investimentos terá mais retorno?