A democracia faz-se de alternância, de uma sucessão repetida e seguida de pessoas ou ideias. A separação de poderes, a limitação do poder político até podem ser mais importantes que a mera alternância, mas a falta desta induz, ou revela, poderes não tão limitados quanto deveriam ser.

Portugal tem vários partidos de esquerda que são socialistas, a par de alguns de direita também socialistas. Por muito que CDS e Chega o neguem, o foco das suas políticas encontra-se no estado. Por algum motivo o CDS se opôs à privatização da CGD e fez o que pôde para afastar os liberais que militavam no partido. Por alguma razão o Chega se preocupou mais com a reestruturação da TAP, com o esforço para que a TAP servisse os Portugueses mesmo que esse serviço seja prestado por outras companhias privadas, que a vender a empresa que mais não é que um peso imposto aos contribuintes. Por alguma causa que não desvenda, André Ventura entende que definir o salário médio por decreto é a solução para que vivamos melhor. Estes dois partidos dizem-se de direita mas, seguindo a tradição de boa parte da direita portuguesa, colocam o estado no centro da vida das pessoas e das empresas.

Verdade seja dita que CDS e Chega ainda se dizem de direita, pois o que distingue a direita da esquerda não é apenas socialismo, tal como há liberais que são de direita e outros que são de esquerda. Já quanto ao PSD o problema é de total indefinição. O que é hoje este partido político? Como é que se posiciona? Que ideias tem? Como é que vê o país? Que quer que Portugal seja daqui a 20 anos? Ou ainda uma pergunta mais directa: quando se vota PSD vota-se no quê?

São perguntas às quais Rui Rio não dá resposta. O líder do PSD dirá que são perguntas que não interessam. Possivelmente serão perguntas para as quais não tem mesmo resposta. Se para Rio governar é gerir, governar melhor resume-se a gerir melhor. Ou seja, Rui Rio considera-se melhor que António Costa porque gere melhor que o actual primeiro-ministro. Para Rio, a alternância política reduz-se a uma sucessão repetida de pessoas diferentes com as mesmas ideias. As ideias até serão secundárias pois variam de acordo com o que é preciso fazer num determinado momento.

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Há ainda outra questão que é mais simples que qualquer das perguntas anteriores: se o que distingue Rio de Costa é a eficiência e não a orientação política, não a visão que tem para o país, por que razão Rio não está no PS? Por que motivo é do PSD? Se o que o move é tão só mudar a pessoa que chefia porque não o faz no PS?

Não sei se Rio vai ganhar as próximas eleições. Mas se as vencer é provável que não faça muito diferente de Costa. Se as vencer, o PSD até pode ocupar o centro político e empurrar o PS para a esquerda; o Chega até pode ocupar o lugar da direita socialista. Não seria muito diferente do que se passa no Reino Unido onde os ‘tories’ se renderam ao ‘Big state conservatism’, os ‘labour’ não sabem ao certo onde se posicionar e o legado liberal de Thatcher é deixado ao abandono à espera de alguém com iniciativa. Uma eventual vitória do PSD de Rio pode ser excelente para o antigo autarca, fantástica para os que o rodeiam, mas tem pouco efeito prático para Portugal. Que ganha o país se o PSD for igual ao PS? Que ganha o país se Rio for apenas melhor que Costa quando o problema é muito mais profundo que isso?

Esta realidade é um choque para muitas pessoas que ao longo do anos viram no PSD a  representação política do lado mais dinâmico do país. Umas vezes de forma mais assertiva (como as décadas de 70 e 80 e na legislatura entre 2011 e 2015), outras de modo mais comedido, como nos anos 90 e no início deste século. Mas, até agora, nunca o PSD desistira de apresentar uma visão diferente da do PS.

Ao desistir de o fazer, o PSD abandona um eleitorado que foi seu. Os dos que querem um país que não se reduza a uma escolha entre o PS e o Chega. E com o PSD fora deste leque de opções, a Iniciativa Liberal está perante uma oportunidade caída do céu. Pela primeira vez, a alternativa ao socialismo está na defesa do liberalismo. Se a IL for bem-sucedida a transmitir a mensagem, bem-sucedida no programa eleitoral e bem-sucedida no trabalho pós-eleições poderemos dizer no futuro que, em 2022, se deu uma alteração na política portuguesa.