Afinal, há mais especialistas do que se suspeitava na arte de gerar “dinheiro grátis”, dinheiro fácil ou resultante de pura especulação! Cheguei a pensar – e a aventar — que António Costa seria o mais arrojado e o mais competente dos especuladores, pelas provas dadas no sector imobiliário, cuja inflação (parece que agora se fala de “bolha”) lhe deu oportunidade de exibir a sua arte de bem cavalgar toda a sela. Na verdade, não é habitual ver-se um primeiro-ministro com tamanho domínio do mercado dos imóveis e com uma coragem na tomada de risco de uma envergadura tal que lhe permite fazer duplicar o valor de um imóvel no período de um ano. Claro que o caso passou despercebido e não comentado. Para a malta da esquerda, quando essa coisa criticável do mercado funciona para “um dos nossos”, no pasa nada.

Mas depois veio Robbles e o caso mudou de figura – digamos que mudámos de campeonato. A competência especulativa atingiu, aqui, altitudes estratosféricas — porque em vez de milhares, passámos a falar de milhões e também por outra razão. É que este foi o acontecimento que obrigou o Bloco de Esquerda a tirar a máscara e a mostrar que — a despeito da sua tradicional arrogância cheia-de-si-mesmo, moralista, acusadora e persecutória –, afinal era mesmo tudo hipocrisia. E a montanha da ideologia anti-especulativa e hiper-reguladora pariu um rato oportunista que defende sempre os seus amigos e fecha os olhos aos grandes negócios lucrativos, desde que quem lucra seja compagnon de route. Catarina Martins demonstrou, nessa altura, que todos os animais são iguais, mas – parafraseando a conhecida obra de Orwell sobre porcos triunfantes – alguns são mais iguais do que outros. A história repetiu-se segunda vez.

Para azar dos azares, e em tempos de encarceramento de Armando Vara e de pressão generalizada sobre a quadrilha, apontam agora os holofotes para o PCP e Jerónimo de Sousa. O simpático, austero e impoluto camarada Jerónimo, que lidera com mão de ferro o partido que – disse Mário Centeno – é confiável e fiel à sua palavra, ao contrário do Bloco.

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