Não se pedem maiorias absolutas. Pedem-se votos. As maiorias conquistam-se e são o resultado da distribuição das somas dos votos. Os que defendem que o PS não deve ter a maioria absoluta estão a dizer que não se pode votar PS. Têm razão.

A política do governo de coligação PS-PCP-BE foi simples. Gritaram que eram de esquerda, inventaram umas causas inúteis, enquanto nos tentavam convencer que tínhamos mais rendimento e aplicavam mais impostos para, ao mesmo tempo, delapidarem os serviços públicos de saúde, educação, justiça, defesa e segurança.

Não se pode votar no PS de António Costa. Faltam à verdade de forma sistemática, são campeões do nepotismo, não assumem as responsabilidades pelos erros, iludiram o país com a invenção da devolução dos rendimentos, tiveram políticas sociais quase sempre ineptas e inconsequentes, destruíram (mesmo) a estrutura física e humana do Serviço Nacional de Saúde, massacraram os serviços públicos, aumentaram (como seria inevitável) a dívida, inventaram o milagre da recuperação económica à custa de uma situação internacional inusitadamente favorável. Reconheçamos que há menos desemprego e o PIB cresceu alguma coisita. Vamos ver quanto dura. Em termos de política orçamental, há donas de casa que fariam melhor. Despede-se a empregada, poupa-se no detergente, come-se menos, nada se conserta e… sobra dinheiro no fim do mês.

Nem para ambulâncias pode o INEM gastar dinheiro, ainda que o dinheiro seja do INEM e o INEM seja financiado com um “extra” que está junto à fatura dos seguros de acidentes e vida. Penso mesmo que o melhor será assumirem que entre ligar para o INEM ou mandar vir o Uber, o segundo é mais certo. Isto, claro, se não estiver a passar um táxi à hora do acidente.

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Ter mantido a geringonça à custa das 35 horas na função pública, da intervenção estatizante nos transportes e da colonização da administração pública por uma nova geração de socio-comuno-bloquistas (um efeito de renovação de quadros públicos de que ninguém parece ter dado conta), ao mesmo tempo que foram endrominando os comunistas para as questões das finanças e da falta de investimento público, tem mérito. A “descrispação”, termo inventado pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa no início do seu primeiro mandato (não se iludam que vai haver segundo) para poder justificar o seu inestimável e quase constante apoio à coligação das esquerdas foi uma fantasia que a incidência anual de greves, em crescendo depois de assegurados os ganhos do PCP, desmascarou. Estou convicto que o melhor resultado da geringonça foi o fim da hegemonia da CGTP, um custo que o PCP não terá antecipado, com o aparecimento de um sindicalismo “alternativo”, embora pouco inteligente. Uma manifestação de democracia de que os poderes não gostaram e a que o governo reagiu de forma oportunamente musculada. Doutrina de esquerda, a um passo de Tiananmen. Deu jeito a todos.

Do PCP sabe-se o que é, mesmo que dificilmente volte a ser a força motriz da oposição à esquerda do PS. O PCP foi o “inimigo” de que Mário Soares precisou para crescer. Ironicamente, foi a principal bóia da salvação política do Costa derrotado. A hilaridade total é mesmo quando ouvimos o camarada Jerónimo exclamar: “Não há nenhuma maioria parlamentar nem nenhum Governo de esquerda ou de maioria de esquerda. Não há Governo apoiado pela CDU”. Lindo!

O BE será o que o professor Louçã determinar, idealmente um parceiro de governação, com pastas e tudo. O Bloco são comunistas disfarçados. Confesso que prefiro o PCP. São “istas” dos quatro costados, sem nada a esconder, convencidos da democracia da família Kim.

O PAN não se afirmou como partido ecológico com pés e cabeça, vive de propostas bestiais e fundamentalistas sem base científica, e os verdelhos não contam.

Em boa verdade toda a programática da esquerda é muito mais religiosa do que baseada em evidências. A política de hoje assume-se mais pelas crenças do que pelas escolhas sustentadas em práticas com resultados comprovados. Os nossos intelectuais da esquerda, na falta de sustentação racional, não vão mais longe do que em experimentalismo social que apoiam em “por que sim”. A esquerda, de tanto querer parecer laica, internacionalista, tolerante, progressista, anti-racista e feminista, tornou-se numa nova religião anti-globalização, nacionalista, facciosa, classista, reacionária e objetivamente racista e sexista. Da tolice do comunismo científico que a etologia demonstrou nunca poder existir, passaram à teologia de razões morais que nem eles praticam.

Votar no PS é sufragar Costa. Seguramente, há muita gente contente com o governo que temos tido e até já ouvimos o elogio à “estabilidade”, ao vivo e em direto, da boca de banqueiros respeitáveis. Votar PS, além de sufragar Costa é aceitar uma de duas possibilidades. (1) A maioria parlamentar do PS, para um governo que não precise de mais nenhum apoio partidário, ou (2) uma nova coligação das esquerdas com ou sem animais à mistura. No primeiro caso, apesar da vantagem de isolar António Costa, não será por isso que a governação será mais afoita e também não será por falta de parceiros políticos que o dr. Costa deixará de culpar sempre “os outros”. A segunda hipótese, a de reedição de uma qualquer carripana à esquerda, será mais da mesma miséria governamental a que fomos sujeitos desde novembro de 2015.

Bem se cansam os analistas em explicar que da próxima vez será diferente. Talvez? Geometria diferente, mais “aprofundamento das conquistas de abril”. Mas o resultado final será o mesmo… estagnação e mediocridade. A(pro)fundamento! No fundo, o voto na esquerda, mesmo que não seja no PS, será sempre em António Costa e no que ele precisar. Tiro-lhe o chapéu! Para já, a maior conquista de abril é, sem dúvida, a novíssima possibilidade de escolha do local ideal para a eliminação de urina e dejectos. No fundo, é a aplicação do princípio da berma da estrada, livre para quem dela precisar, aos urinóis escolares. Cá está um tema bem interessante para que não se fale do que é mesmo importante.