Tantos e tão relevantes factos para abordar esta semana e eu não consigo evitar abrir esta crónica com a notícia do indivíduo norte-americano que entrou para o Guinness – O Livro dos Recordes – após ver um filme, do Homem-Aranha, 292 vezes. Peço desculpa, mas foi impossível fugir a este tema. Porque isto é uma espécie de íman da parvoíce. Não só não se lhe consegue escapar, como parece atrair remoques também eles muitos parvos. Como este: assinalo a incompetência dos juízes do Guinness. Ver um filme 292 vezes é para meninos. Qualquer português que tenha pelo menos 50 anos viu muito mais vezes nos canais nacionais o Música no Coração do que este artolas viu no cinema o Homem-Aranha.

Despachado este assunto, constato não apenas estar mais aliviado, como também que esta notícia faz uma soberba ligação para o caso da transferência-relâmpago do ex-Ministro das Finanças, João Leão, do Governo para a reitoria do ISCTE. É que pode dizer-se estarmos perante um filme que é uma versão do clássico O Leão da Estrela. Neste caso temos é A Estrela do Leão. Enquanto a película dos anos 40 relata a aventura de um adepto sportinguista que tem a sorte de arranjar uma boleia para a bola, o filme agora protagonizado pelo ex-Ministro das Finanças relata a aventura de um adepto socialista que tem a sorte de arranjar um trabalho como o Boss AC preconiza na canção: “bom, bom, bom” e “já”.

O que na verdade não espanta. Nem a parte do novo trabalho de João Leão ser bom, mas bom, nem a circunstância de ter surgido já. Que seja bom a dar com um pau não admira porque isto já se sabe como é: quando uma pessoa trabalha para si própria acaba por empenhar-se muito mais. Em teoria não é um método de trabalho muito respeitador do ideário socialista mas, na prática, é evidente que o então Ministro das Finanças, aquando da decisão de financiar o Centro no ISCTE ao qual iria porventura parar um certo e determinado Ministro das Finanças, não olhou a meios para garantir que o futuro ex-Ministro das Finanças teria as condições de trabalho dignas de um ex-Ministro das Finanças. Como é óbvio.

O facto de o novo trabalho de João Leão ter surgido já pode parecer surpreendente, sem dúvida. Mas apenas a quem nunca experimentou a profunda e constante náusea de uma deslocação Lisboa-Albufeira, no início dos anos 80, via Serra do Caldeirão. Olha, já está. Pronto, acabei de falar nisso eme veio o jantar à boca. Incrível. Mas dizia eu. Só quem nunca experimentou este nível de náusea é que pode desejar que indivíduos como João Leão sejam obrigados, após abandonarem a vida política, a anos e anos de período de nojo. Só mesmo alguém sem coração para obrigar o ex-ministro a um sinuoso e nauseante percurso por incontáveis entidades, em jeito de fuga ao conflito de interesses, antes de aceitar este estupendo cargo no ISCTE. Alguém sem coração, ou sem ponta de cinetose (também acabei de aprender a palavra).

Mas pronto, lá irá João Leão para o ISCTE gerir o Centro de Valorização de Transferência de Tecnologias. Centro esse que vai concentrar oito centros de investigação, dez laboratórios e três observatórios. Os oito centros de investigação vão, lá está, investigar que raio vem a ser um Centro de Valorização de Transferência de Tecnologias. Os dez laboratórios vão testar novas combinações aleatórias de palavras que soem a pompa para designarem vindouros Centros dignos de albergarem outros dirigentes do PS. Já os três observatórios eu diria que servirão para ficar a observar quem trabalha nos oito centros de investigação e nos dez laboratórios. Mas isso era se pudéssemos chamar a alguma destas coisas “trabalho”. Sendo assim, peço desculpa, mas realmente não faço ideia para que servirão os três observatórios. Talvez me deva juntar a um destes centros de investigação para investigar isto. É isso mesmo. Fiquem a aguardar notícias.

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