Por ser de esquerda, o presidente da câmara de Loures não pode defender penalizações a quem incumpre a lei e toma posições destruidoras de bens privados e públicos, e mesmo criminosas face à sociedade.

Por ser de direita, o líder do CDS não podia, durante décadas defender o aumento do salário mínimo.

Por ser de esquerda, ninguém pode defender o tratamento da imigração com critérios de respeito pela legislação e pela cultura do país que a recebe.

Por ser de direita ninguém pode defender a manutenção de determinadas actividades económicas na esfera da propriedade pública.

O wokismo tem de ser absolutamente defendido por quem está na esquerda e ninguém na direita pode ser contra uma baixa do IRC.

E isto é verdadeiramente estúpido.

Aquilo que me define é a minha consciência e não a minha filiação partidária. Não é por ser do meu partido que eu devo defender as opiniões que alguém manifesta publicamente. Não estão sempre errados os que são contra a minha escolha partidária, nem tem sempre razão quem está ao meu lado, no meu partido.

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Quando se deu o 25 de abril, era maioritariamente na indumentária que verificávamos estas apropriações ideológicas, quem era de esquerda vestia roupas grossas e sapatos rústicos e quem era de direita, roupas finas e sapatos italianos. Hoje, a indumentária deixou de marcar a diferença e são os temas bandeira que nos dão a impressão de nos afirmar como parte do grupo a que sentimos pertencer.

Na verdade, muitas vezes não me revejo naquilo que afirmam aqueles que falam publicamente e que representam a linha política em que me revejo. Muitas vezes, a verdade é que essas afirmações são feitas mais para defender interesses próprios do que para serem verdadeiras. E isto passa-se com a generalidade da população a quem aqui chamo de eu.

Que duas pessoas estejam sempre de acordo em todos os temas é em todas as circunstâncias uma anormalidade e acreditar que isso deve ser a nossa realidade é apenas estupidez. E é nessa estupidez que temos vivido ao longo destes 50 anos de democracia, assassinando-a aos poucos e destruindo a sua essência de promotora da consciência de cada um para uma tomada de decisão que melhor satisfaça a maioria.

A ideia de democracia nunca foi a promoção de uma luta entre partidos ou entre minorias intelectuais que dominam a realidade política. Aquilo que se pretende com a democracia é que cada um, em consciência, apoie a decisão que melhor lhe pareça como solução para a questão que se debate e que, a partir dessa manifestação de opinião, se possa avançar, unidos em sociedade, para uma solução que melhor se adapte à consciência da maioria.

A estupidez é que estamos cada vez mais a destruir essa unidade e essa harmonia, sem que tenhamos sequer promovido aquilo em que acreditamos, mas tão só defendido quem pertence à equipa em que me enquadro.

Estamos a matar a democracia que nos dá a liberdade de pensar e de decidir, não por sermos perseguidos ou obrigados por alguém, mas por vontade nossa e apenas porque temos medo de não ser recebidos no seio dessa equipa a que sentimos pertencer.

Estamos a promover uma ditadura de comportamento que nos levará à perda da liberdade e isso é mesmo uma estupidez.