O economista Dani Rodrik demonstrou a importância crucial das instituições para o crescimento sustentável e o desenvolvimento das nações. Mais do que a geografia ou a riqueza natural, as instituições baseadas no conhecimento da realidade local e fundadas na democracia são a melhor garantia para o bem-estar dos povos. A história Europeia é um exercício único de construção de instituições com um objetivo claro de promover a paz num território que sempre foi abalado por guerras, unindo Estados, criando um modelo de desenvolvimento comum através do mercado único e permitindo a melhoria da qualidade de vida nas regiões mais desfavorecidas.

Mas essa união só é possível se houver justiça entre os Estados. Dizia Robert Schumann que a união política não é a absorção das nações. Mas a união política não pode também ser desculpa para o desequilíbrio entre nações e o desrespeito completo de políticos pelas instituições que supostamente defendem.

Na semana que passou foi publicado um livro de confissões do Presidente Hollande onde é revelado que a promessa do Governo Francês nos últimos cinco anos de manter o défice abaixo de 3% era uma mentira aceite por todas as partes e que isso seria um privilégio dos países grandes. O título do livro é revelador “Um presidente não devia dizer isto…”. Realmente não devia dizer, mas sobretudo não devia fazer. A ser verdade, estas afirmações evaporam qualquer confiança que os Europeus possam ter nos políticos Europeus.

O mais grave é as suspeitas que lança sobre o comportamento do Comissário francês e socialista Pierre Moscovici, responsável pela pasta de Economia, Finanças e Impostos, que foi também anterior Ministro das Finanças de Hollande até 2014. Estas afirmações implicam no mínimo o beneplácito de Moscovici, que enquanto Ministro das Finanças e depois Comissário terá primeiro promovido e depois terá fechado os olhos à violação das regras orçamentais. Mais grave, aceitou quebrar da relação de transparência entre Estados de uma União da qual França foi um país fundador. Terá sido por nacionalismo, por socialismo, ou por pragmatismo, e é lamentável.

Esta posição do Governo Francês e do seu Comissário é um ataque a instituições que foram sendo construídas, por vezes com grande dificuldade e em situações de grande turbulência política e económica, para melhorar a qualidade de vida de todos os Europeus, dentro da justiça. São essas instituições que procuram evitar a aleatoriedade individual, mas estas revelações mostram que a Moscovici e Hollande usaram a sua influência pessoal para abusar das instituições em seu benefício, pervertendo a própria construção da União Europeia, que tanto defendem.

Esta exceção francesa é inaceitável, porque ao invés de tentar corrigir alguma deficiência da construção institucional, usa as suas limitações para, a partir do coração da União Europeia, enganar todos os seus parceiros. É deplorável.

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