Desde sexta feira passada que as crianças deixaram de ser obrigadas a usar máscara no recreio. Apesar disso, há um grupo de pais que insiste em protestar com o Governo, queixando-se de que não faz sentido que continuem a usar máscaras nas aulas, ao mesmo tempo que quem vai a uma discoteca não o faz.

Esses pais esquecem-se que, nas discotecas, estão todos vacinados, de maneira que não há perigo. Já nas escolas, as crianças não estão vacinadas e podem apanhar o vírus.

Dirão os pais que a doença não é grave em crianças. Que são poucas as que adoecem, raras as que adoecem gravemente e raríssimas as que morrem. É um risco que se pode correr, se significar não as obrigar a estarem horas a fio de máscara, o que prejudica não só a aprendizagem, como o desenvolvimento em geral.

Sim, mas mesmo não sendo grave nas crianças, a doença é grave nos mais velhos, que podem ser contagiados por elas. É a resposta sensata.

Não contentes com isso, os pais contraporão que os mais velhos estão todos vacinados, de maneira que o problema não se põe.

São chatos, os pais neste ping pong imaginário. É verdade que os mais velhos estão vacinados, mas a vacina não é 100% eficaz.

“Então e nas discotecas?”, perguntarão os pais, achando que deram xeque-mate.

Não deram. Porque a razão pela qual as vacinas funcionam lindamente nas discotecas, mas não cá fora, é o vírus abominar música funk, justamente o que agora se ouve em todo o lado. O vírus pode ser desagradável, mas tem bom gosto. E os pais não percebem nada de ciência. Nem de música.

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Nem, já agora, de ensino. A verdade é que a manutenção desta medida não só não prejudica as crianças, como até as beneficia. O que o Governo pretende é que, no seguimento da geração mais bem preparada de sempre, venha aí a geração mais bem preparada de sempre em apneia.

Trata-se de alunos que fazem o percurso escolar com défice de oxigenação, o que obriga o cérebro a esforçar-se ainda mais que o normal. Como aqueles atletas que treinam corrida com pesos nos tornozelos. Depois, quando os tiram, são muito mais rápidos. Os nossos filhos vão ser assim. Mini-Houdinis a executarem truques enquanto estão fechados em caixões sem ar. Quando abandonarem o sistema de ensino, tirarem as máscaras e começarem a raciocinar utilizando toda a capacidade respiratória, vão parecer Einsteins. Se o Einstein tivesse a pele cheia de acne juvenil por causa da máscara, claro.

Quando eu andava na escola, costumávamos ver quem é que conseguia suster a respiração durante mais tempo. Era um jogo giro, mas os miúdos de hoje elevaram-no a outro nível. Em vez de verem quanto tempo aguentam sem respirar, agora competem para ver quantas páginas sobre o conceito filosófico de “tempo” conseguem escrever sem respirar.

Por mim, estou tranquilo. A minha filha parte para o 5º ano com algum avanço sobre os coleguinhas, uma vez que passou o Verão a levar amonas dos irmãos mais velhos. Na nossa família somos assim, sempre a puxar uns pelos outros nos estudos.

Não estou a dizer que esta medida visa apenas o benefício da pequenada. Há, também, um impulso egoísta do Primeiro-Ministro – ainda que inconsciente – neste desejo de manter as crianças com a boca tapada. É evidente que António Costa está a projectar nos alunos portugueses o desprezo que sente pelo seu ministro das Infraestruturas e o desejo que tem em amordaçá-lo para que não diga bacoradas.

É que Pedro Nuno Santos tem aquele ar amuado de garoto que não ficou contente com o presente que lhe deram. Primeiro, foi um avião. Adorou, mas só até perceber que era em 10 mil peças e ia ter de o montar sozinho. Depois, recebeu um comboio, mas fez beicinho porque vinha sem pilhas. Percebe-se. Por isso é que tenho uma gaveta cheia de pilhas, das AAA às de 9 volts que parecem baterias. Só quem nunca sofreu a birra de uma criança que recebe um brinquedo a pilhas quando já é tarde para ir à loja comprá-las, é que se deixa apanhar desprevenido. Cheira-me que António Costa não volta a dar uma empresa de transportes falida a Pedro Nuno Santos.

Entretanto, resta esperar que esta medida educativa dê frutos. Manter as crianças mascaradas enquanto os adultos andam de cara destapada vai fazer muito pelo desenvolvimento das capacidades cognitivas dos mais jovens, além de que combate a Covid. O que não é pouco: não nos podemos esquecer que a Covid não é uma mera gripe sem consequências. Pelo menos a gripe de agora. A gripe do futuro vai ser bastante mais perigosa. Quer dizer, até pode continuar igual, os médicos que a vão tratar é que serão diferentes. Serão doutores que fizeram grande parte do percurso escolar a respirar para cima de um trapo. Se souberem identificar um estetoscópio já é uma sorte. Se o souberem usar, então são catedráticos.