Enquanto a solução do problema da Ucrânia se encontra num impasse e a guerra continua, com maior ou menor intensidade, a corrida aos armamentos entre a Rússia e os países da NATO intensifica-se e chega ao Espaço.

O general-tenente Alexandre Golovko anunciou na terça-feira que a Rússia criou um novo ramo nas forças armadas: as Forças Aéreo-Espaciais, que irão juntar a Força Aérea e as Tropas de Defesa Aéreo-Espacial.

Segundo os generais russos, será dado seguimento a “um seguro sistema escalado de prevenção de ataques de mísseis tanto no Espaço, como através da instalação de estações de radares de alta precisão”.

Este anúncio foi feito um dia depois de Deborah Lee James, Secretária da Força Aérea dos Estados Unidos, ter anunciado a possibilidade do envio de novos aviões de combate para a Europa, incluindo os caças de quinta geração F-22.

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Antes, os governos da Lituânia e da Polónia revelaram que tinham lugar conversações com os Estados Unidos sobre o envio de material bélico pesado para os países vizinhos da Rússia.

Moscovo promete uma resposta assimétrica e lembra que a Rússia abandonou o Tratado sobre as Forças Armadas na Europa. “Nós, como se costuma dizer, ficamos com as mãos livres para organizar medidas de resposta com vista ao reforço das nossas fronteiras ocidentais”, frisou o general Iúri Iakubov, inspector do Ministério da Defesa da Rússia.

Resumindo, a retórica belicista sobe de tom, fazendo recordar os anos mais negros da guerra fria.

Não se espera qualquer desanuviamento enquanto não se encontrar uma fórmula de solução para o conflito na Ucrânia. Como o chamado “quarteto da Normandia” (Alemanha, França, Rússia e Ucrânia) não conseguiu sequer congelar totalmente o conflito, os Estados Unidos têm um papel cada vez mais activo nele. A ameaça do envio de armamentos letais para a Ucrânia e do aumento das sanções contra a Rússia parece ser mais uma alavanca para obrigar o Kremlin a recuar.

Por enquanto, a fórmula de solução apresentada pelo Kremlin para não agrada a Washington. Numa conferência realizada na segunda-feira na Finlândia, Alexei Kudrin, antigo ministro russo das Finanças e homem próximo do Presidente Putin, afirmou que “a tensão entre a Rússia e o Ocidente pode diminuir se a Rússia receber garantias do fim do alargamento da NATO perto das fronteiras russas”. Ou seja, a Crimeia é um caso encerrado e Moscovo recebe garantias de que países como a Moldávia, Geórgia e Ucrânia não terão lugar na Aliança Atlântica.

A resposta do outro lado é que a Rússia se deve retirar da Crimeia e não limitar a capacidade de opção dos países europeus que antes faziam parte da URSS.

Nesta situação, Putin prepara-se para o pior dos cenários. O conhecido economista russo Evgueni Gontmakher escreve no diário económico que a antecipação das eleições parlamentares no país, que está a ser discutida no Parlamento Russo por iniciativa do Kremlin, poderá significar também a antecipação das eleições presidenciais de 2018 para a Pimavera de 2016.

Segundo Gontmakher, a situação económica, política e social continua a deteriorar-se e, em 2018, Putin poderá ter de enfrentar uma forte onda de descontentamento, ao passo que, em 2016, a tarefa da reeleição será mais fácil. Caso seja eleito, ele poderá substituir o governo de Dmitri Medvedev por um executivo de falcões como Serguei Glaziev e Dmitri Rogozin, que tentará levar à prática o chamado “cenário mobilizador”, ou seja, recorrendo a repressões, meios administrativos, etc., dar uma espécie de “grande salto”, tal como fez Estaline nos anos 30 do séc. XX.

Neste contexto, muito irá depender da evolução da situação internacional e a aproximação das eleições presidenciais nos EUA poderá não contribuir também para a melhoria das condições do diálogo.