Estamos a cerca de semana e meia das eleições legislativas, já se realizou a totalidade dos debates, e creio que os líderes partidários foram bastantes esclarecedores. Tanto os que foram bastantes esclarecedores, como os que optaram por não ser rigorosamente nada esclarecedores. Num caso e noutro ficámos bastante esclarecidos.

De tal forma que creio já estarmos todos prontos para, dia 30 de Janeiro, irmos ficar em casa fechados com COVID, sem fazer ideia de como, onde, ou quando podemos votar. Isto uma vez que o governo não aparenta ter qualquer urgência em esclarecer como poderão exercer o direito de voto aqueles portugueses que estiverem confinados no dia das eleições. A falta que faz, numa altura destas, um Eduardo Cabrita e aquela sua saudosa e reconhecida pressa.

Ou, em alternativa, um vice-almirante gabarola com vontade de liderar um processo de votação para as legislativas 2022, cujo previsível sucesso lhe permitisse galgar na hierarquia da Marinha de modo abstruso. Afinal, qual seria a dificuldade de liderar um processo de votação? Depois do sucesso do plano de vacinação em que se espetou uma agulha no braço de alguns 90% dos portugueses, qual seria a dificuldade de espetar os boletins de voto de alguns míseros 50% dos portugueses nas urnas?

Eu respondo. Seria uma dificuldade idêntica à de escutar aquela passagem do tempo de antena do PS em que se diz que, entre 2015 e 2019, o governo socialista virou a página da austeridade, sem gargalhar mais exuberantemente que o Joker interpretado pelo Jack Nicholson.

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Só há um cenário em que é correcto afirmar que o governo do PS virou a página da austeridade. É se considerarmos que Portugal é, não um livro, mas uma monofolha. Tipo aqueles panfletos publicitários, por exemplo do Minipreço, que de um lado anunciam a abertura da nova loja de São Domingos de Rana e, no verso, apresentam um cupão de 20% de desconto em frutas e legumes no dia da inauguração do estabelecimento. Portugal é uma dessas monofolhas. De um lado tem a austeridade, e logo que um governo do PS chega ao poder vira de imediato a monofolha revelando o que está no seu verso: a bancarrota.

Como que comprovando esta minha teoria, durante a campanha eleitoral, António Costa acenou com a semana de trabalho de quatro dias, com aumentos do salário mínimo e com apoios às empresas também para aumentos do salário médio. Ou seja, avançando estes soberbos planos do PS, seremos mesmo a nova Venezuela. Reparem. Tal como na Venezuela, teremos uma economia totalmente centralizada. E, tal como na Venezuela, também por cá há imensos portugueses. Só não temos – é verdade, e não quero subestimar este ponto –, só não temos um líder de governo com uma bigodaça do garbo da do Nicolás Maduro.

Ainda assim, calma. Porque temos no nosso líder, António Costa, alguém que, não tendo ele próprio pilosidades supra-labiais, se estreou, em cargos governativos, num executivo liderado pelo outrora detentor de uma portentosa farfalheira facial, António Guterres. Portanto, como vêem, as semelhanças são assustadoras. Ou prometedoras, se porventura me estiver a dirigir a chalup… a esquerdistas.

Por falar em Guterres. Ou muito me engano ou, tal como o Gandhi luso, também António Costa está a preparar-se para se pôr ao fresco caso o resultado das eleições não lhe seja favorável. Como é que eu sei? Fácil. Basta ver o que Costa afirmou sobre o antigo accionista da TAP, David Neeleman, para perceber que o primeiro-ministro está a preparar uma carreira internacional. Depois de anos e anos a aldrabar a nível interno, já começou também a inventar aldrabices acerca de indivíduos estrangeiros.