No mundo, a cada ano que passa, 15 milhões de pessoas sofrem um acidente vascular cerebral (AVC) e cerca de 80 milhões vivem com as suas sequelas. A doença de Parkinson afeta 7 milhões de pessoas e a frequência está a aumentar. Outros 50 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de demência e calcula-se que este número aumente para 136 milhões em 2050. A esclerose múltipla afeta 2.8 milhões de pessoas e a epilepsia 50 milhões. A enxaqueca e outros tipos de dores de cabeça constituem a causa de incapacidade mais frequente em pessoas com menos de 50 anos, sendo a que tem maior impacto na vida ativa.

O cérebro é um órgão complexo e fascinante, composto por milhares de milhões de neurónios, que criam constantes ligações entre si. É o cérbero que determina a nossa personalidade e que nos permite respirar, comer, movimentar, comunicar, ver, ler, ouvir, tomar decisões e resolver problemas.

Contudo, existem poucas ferramentas que nos permitam prevenir e tratar algumas doenças cerebrais frequentes, como a demência. Com efeito, a capacidade de renovação neuronal é quase inexistente, o que torna a disfunção cerebral praticamente irreversível. Torna-se, assim, fundamental investir em mecanismos de prevenção da doença cerebral, desde logo, promovendo o exercício físico e mental, o controlo dos fatores de risco vascular, como a hipertensão, a diabetes e o excesso de peso, bem como melhorar a qualidade do sono e promover a interação social.

Há, no entanto, doenças em que só é possível proteger a função cerebral se for garantido o acesso atempado a cuidados de saúde. Por exemplo, o atraso no tratamento dos sintomas de epilepsia pode levar a uma menor eficácia do mesmo e resultar em danos irreversíveis. Porém, embora ainda exista um longo caminho a percorrer na promoção da saúde cerebral, já são notórios alguns importantes avanços.

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A imagem cerebral, aliada ao incrível potencial da Inteligência Artificial (IA) aplicada à Medicina, surge como uma nova esperança na promoção da prevenção e tratamento atempado das doenças neurológicas. Na demência, por exemplo, os algoritmos de IA já permitem quantificar os volumes de partes específicas do cérebro, como os hipocampos e os lobos temporais, comparando valores individuais com os de uma população saudável com a mesma idade. De facto, a IA já ajuda os neurorradiologistas a estabelecer padrões de atrofia cerebral e apoia os neurologistas no diagnóstico de doentes com demência. Espera-se ainda que, em breve, desempenhe um papel fundamental na avaliação de doentes com sintomas incipientes de falta de memória, contribuindo assim para a monitorização e avaliação de resposta a novas terapêuticas.

Na esclerose múltipla, tem já atualmente um papel fundamental na quantificação das áreas de cérebro afetadas pela doença e, sobretudo, na monitorização da sua evolução: exemplo disso mesmo é o Icobrain, uma tecnologia que utilizamos na Imagiologia do Hospital CUF Tejo. Estima-se que a utilização da IA em doentes com esclerose múltipla possa antecipar a deteção da progressão da doença em vários meses, assim permitindo uma intervenção terapêutica mais precoce, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida dos doentes.

Manter um cérebro saudável, preservando a função cognitiva e mental, deverá ser a nossa principal preocupação na busca de uma vida ativa longa e com qualidade.