Está quase a tocar para o segundo tempo. Após entregar os testes e feita a correção, perguntei aos alunos se já tinham feito a sua escolha para o Ensino Secundário.  Alguns dizem que já fizeram a sua inscrição. Uma aluna respondeu: Eu quero ir para um curso e a minha mãe não me deixa, estou farta de discutir com ela.

Todos os anos existem alunos que se inscrevem em percursos do Ensino Secundário que não querem, a pressão familiar é decisiva.

Começam o ano letivo sem interesse, faltam e comprometem o seu percurso naquele ano. Sem dedicação e estudo não conseguem transitar para o ano seguinte. Mais de metade dos alunos faz escolhas porque a família diz que é melhor.

Estou a recordar a minha Direção de Turma do 10º C numa  escola do centro de Lisboa que tem muita  procura: no fim do ano letivo metade dos alunos mudou de área de estudos.  O sucesso dos alunos foi residual, quando conversava com eles, confessavam que não gostavam da área, estavam arrependidos e que estavam infelizes.

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Quem é que consegue ensinar alunos infelizes?  Quem é que consegue ensinar alunos que não querem aprender?

Vou recordar um desses alunos, o H, que estava no 9º ano. O H é um aluno  muito inteligente, perspicaz, que resolvia oralmente os exercícios e que ficava impaciente porque eu tinha de voltar a repetir duas e três vezes os procedimentos matemáticos para os outros alunos. Cheguei a um acordo com ele: em metade do caderno fazia o seu desenho, na outra metade resolvia os exercícios que eu pedia. Ele fazia o dobro dos exercícios dos outros.  Hoje em dia é um artista.

Vou falar do A, um aluno do 7º ano, um artista, com dificuldades de aprendizagem na disciplina de Matemática. Também cheguei a um acordo: pode ter o seu caderno de desenhos, mas tem de registar os exercícios e tentar resolver-los.  Com a A o caminho foi difícil, estava sempre virado para trás, a falar, não registava os conteúdos do quadro e fazia muita oposição. Encontrar a paz social foi difícil, como costumo dizer aos meus alunos, eu vou quase sempre atrás deles. Na minha sala, parecemos as Nações Unidas, tenho acordos com quase todos.

Vivemos em liberdade, mas a liberdade ainda não chegou a todos.