A força política de António Costa reside em dar à maioria dos Portugueses o que estes querem. Isso não significa que o primeiro-ministro seja um génio político. Saber o que a maioria dos portugueses pretende não é difícil porque estes, ou são pensionistas ou trabalham para o estado. A vantagem política de António Costa está em conceder à maioria o que esta quer mesmo que isso prejudique os restantes portugueses e até mesmo o país.

Como é que o PS obteve maioria absoluta nas legislativas? A resposta está no parágrafo em cima. O estado cresceu de tal maneira, as pessoas que dele dependem são tantas que a reforma do estado se tornou extremamente impopular. Costa ganhou porque garante a tranquilidade dos que estão dentro e promete pacificar os protestos dos que ficaram de fora. Salazar fez parecido. Claro que não é exactamente a mesma coisa, pois o regime do Estado Novo foi uma ditadura e o actual é uma democracia. Numa democracia, como é natural, os eleitores votam nos seus interesses pessoais e imediatos. O que sucede em Portugal é que, dependendo a maioria dos eleitores financeiramente do estado, o seu interesse pessoal e imediato é que o estado não deixe de pagar os ordenados que lhes são devidos nem deixe de cumprir os contratos assinados com as empresas em que trabalham.

Chegámos a um ponto tal que um partido com um programa que divirja deste objectivo tem poucas possibilidades de vencer eleições. Um político que apresente uma reforma do estado tem o seu destino traçado: um discurso de derrota na noite eleitoral e dezenas de comentadores a perorar sobre a incapacidade de explicar o seu projecto, quando o que sucedeu foi que este foi chumbado precisamente porque foi compreendido.

Como é que o regime de Salazar durou mais de 40 anos? Porque a maioria estava satisfeita e acomodada com o que tinha. Podia ser pouco, podia ser muito mais, mas era o que havia e não valia a pena lutar por demasiados sonhos. Uma mudança, uma reforma implicaria a perda imediata de interesses pessoais. É difícil aceitar, mas foi o que foi. Por isso, os que não tinham lugar saíam. Na altura como agora: se em 2001, emigraram cerca de 20 mil portugueses, esse número foi de mais de 60 mil em 2020. São dados do Relatório da Emigração de 2020 apresentado em Dezembro último (pág. 31). Segundo esse mesmo estudo, em 2019 eram 2.631.559 os Portugueses nascidos em Portugal a residir no estrangeiro (pág. 33). Um aumento que é substancial se tivermos em conta 2017. Ainda de acordo com este relatório, Portugal é o 8.º país do mundo em taxa de emigração, só atrás da Palestina, Porto Rico, Bósnia, Síria, Albânia, Arménia e Macedónia. Mais de 25% dos Portugueses nascidos em Portugal vivem fora do país. Porque será?

Não é fácil viver na mediocridade. Mas há pior: é contar com os fundos de Bruxelas para alicerçar a governação do país nessa mediocridade.

António Costa é considerado um político genial que pode governar durante mais de 10 anos. O político que reduziu Marcelo a um corta-fitas. Um primeiro-ministro que se dá ao luxo de dizer que Sócrates o aldrabou, mas que acusa Passos Coelho da austeridade que se seguiu para pagar essa aldrabice. Um primeiro-ministro que define o que é austeridade porque não se dá ao trabalho de responder quem o questiona. Um chefe de governo que conta com a inflação para reduzir a dívida pública, mas que não vê além disso pois daqui a um ano logo se vê o que se pode fazer. Um líder do PS que gasta os fundos do PRR no estado para satisfazer as clientelas. Se o estado não produz riqueza onde é que depois do PRR irá buscar receitas? Na economia privada que não tem capital e na qual não se investiram os fundos europeus? Na emissão de mais dívida? Daqui a uns anos, quando já for conveniente criticar as actuais políticas de António Costa, a maioria vai permitir que se faça a real contabilização dos estragos. Do tempo e das oportunidades perdidas. Nessa altura será demasiado tarde para os que agora estão vivos. O Estado Novo durou mais de 40 anos. Por que razão a mediocridade socialista devia durar menos?

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