Costumo dizer que o Turismo pertence à economia da felicidade, pois ninguém vai de férias para estar triste. Se pensarmos bem, viajar é um investimento em nós mesmos, no nosso crescimento e no encontro com os que se cruzam no nosso caminho. Esta é a perspetiva de quem viaja. Então e a perspetiva de quem proporciona essa viagem? Qual será? Para mim trabalhar no turismo e em especial no sector da animação turística dá-me o privilégio de acrescentar algo mais nos outros, de criar o imprevisto com base no previsto e de ajudar quem me visita na superação do desconhecido, sendo recompensado com um boost gigante de energia que me faz aguentar as piores alturas (épocas altas) a fazer repetidamente a mesma coisa mês após mês. Mas já lá vamos. Deixem-me que me apresente primeiro.

Chamo-me Afonso Melara, tenho 26 anos, sou licenciado em Turismo pela Universidade de Évora e atualmente aluno do Mestrado de Inovação em Turismo Ativo e de Experiências pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Considero que tenho uma educação ambiental proveniente de 10 anos de escutismo e como tal costumo dizer que criei a minha empresa para tornar o mundo um pouco melhor do que o encontrei, muito ao jeito de Baden-Powell.

Num mercado nacional de animação turística gananciosamente distorcido dos valores em que acredito, o consumo em massa e o desinteresse pela sustentabilidade dos destinos parecem ser as únicas palavras de ordem. Como tal vim tentar colmatar essa falha, oferecendo uma experiência diferenciada, personalizada, unicamente disponível para pequenos grupos, intimamente ligada com a natureza, focada na preservação cultural, na conservação do ambiente e no respeito pelo mesmo, fomentando um estilo de vida saudável aos seus intervenientes.

Dizendo isto por palavras mais simples, para quê ter cinco mil amigos desconhecidos, se apenas cinco verdadeiros me bastam. Esta é a fórmula simplificada de como vejo o turismo, uma divisão por 1000 que faz com que não queira chegar a toda a gente, mas que queira tocar verdadeiramente quem por mim passa, da forma mais genuína que conseguir. Gosto de saber quem são os meus clientes. Sei os seus nomes e os nomes dos seus familiares próximos. Sei quais são os seus empregos, as suas dores e os seus sonhos. Resumidamente gosto de saber o que os move e o porquê de o nosso caminho se ter cruzado ali mesmo. Todas estas conversas acontecem entre duas a quatro horas de tour, quer estejamos calçados a andar pela montanha rodeados por abutres ou descalços a remar num paddle com achigãs a saltar à nossa volta. Os temas são simples e remontam muitas vezes à minha infância e à minha visão acerca dos locais que lhes vou apresentando, pois quando somos os primeiros a nos entregar com palavras e histórias próprias, tudo se torna mais fácil. Desde quedas de bicicleta a mitos e lendas que os meus avós me contavam acerca da nossa aldeia de Galegos, tudo isto vale mais do que uma tese de história decorada e que depois de retida não representa interesse nenhum para a experiência final do turista.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há muito que a comunicação empresarial deixou de ser B to B (business to business), mas na minha opinião também já deixou de ser B to C (business to consumer) para passar a ser H to H (human to human) ou seja de pessoas para pessoas. O cliente é humano e humanos relacionam-se com humanos. Ao contrário do que muitos empresários pensam, mesmo depois da ação de compra é necessário continuar a estabelecer uma relação de confiança com o cliente, pois quando esta é feita com sucesso entramos no segundo ciclo de vida do mesmo, em que este passa de simples consumidor a promotor da marca e é aqui que tudo muda.

Em pleno século XXI as pessoas deixaram de consumir empresas e marcas. Como tal quanto mais distante for o discurso, menos flexível e com mais show off, menos tocamos os outros. Trata-se de facto de uma equação difícil, a construção desta ponte de comunicação, mas se o material for sincero as duas montanhas que representam o turista e a empresa podem ser genuinamente unidas. E quando a mesma é erguida, mesmo que seja uma simples ponte suspensa feita de cordas artesanais e tábuas velhas, tudo o que são valores de sustentabilidade, legado etnográfico e história podem ser passados através de um vale que antes era desconhecido. Não se trata apenas de fazer uma simples caminhada ou de remar um pouco numa canoa, trata-se sim de conhecer o Afonso e de ficar a saber mais acerca da história de um povo. Conhecer as suas gentes, algumas delas esquecidas pelas próprias e que creem já não ter mais nada para ensinar aos outros, mas que têm tanto para dar e para continuar a mostrar aos turistas que levo até ao seu encontro.

É desta forma que acredito no turismo, um agente de promoção de um efeito multiplicador não monetário, mas sim humano e cultural. Que faz com que as pessoas que o praticam saiam da sua zona de conforto. E quando isto acontece sinto-me bem, sinto-me feliz como Jesus que sempre caminhou e encontrou pessoas na sua vida. Que as ouviu, ajudou e conectou com outras, colocando-as a pensar e a questionar-se mesmo quando provindas de diversas partes do mundo, protegendo sempre os mais fracos e promovendo o amor pelo próximo.

Fazer canoagem e paddle durante 2 ou 3 meses seguidos pode ser cansativo, mas eu nunca me canso das histórias e das pessoas que se cruzam no meu caminho. Por vezes perguntam-me como tenho tanta energia e proatividade para trabalhar. De onde vem toda a criatividade e iniciativa que aplico na vida? E na verdade nunca soube a resposta. Mas agora que escrevo este texto e enquanto o rezo, entendo que a fonte de toda esta água-viva é só uma, Jesus.

Sinto que esta é a minha missão enquanto empresário cristão, tocar, transformar e alegrar os que se cruzam no meu caminho conectando pessoas e passando o seu legado tal como Ele o fez ao longo de toda a sua vida.

Aproveitando este tempo pascal, reflitamos acerca das nossas vidas e empresas e de que forma é que estas podem ser a sua imagem ou como é que podemos ser melhores para os outros, tal como Ele que mostrou todo o seu amor ao morrer por todos nós na cruz.