Chegou a minha vez. É certo que poucas coisas me irritam mais que as petições e as petiçõezinhas dos amigos dos animais, da comida sem glúten, do planeta, das minorias, das minorias dentro das minorias… enfim de gente que confunde a intervenção com o número de likes que faz no facebook e outras redes sociais que me abstenho de conhecer (a vida são dois dias e há milhares de óptimos livros e quadros que nunca vou ler nem ver pelo que não experimento qualquer sentimento de culpa por não saber o que se diz no twitter).

Mas as coisas são como são e também eu quero fazer uma petição. O meu propósito é simples: quero pedir, exigir e reivindicar que António Costa se mantenha como líder do PS.

Nada no momento presente me parece mais urgente que ter a garantia de que o actual primeiro-ministro vai continuar a ser secretário-geral dos socialistas por largos e bons anos. Mesmo depois de deixar de ser primeiro-ministro? Sim, sobretudo depois de deixar de ser primeiro-ministro. Por duas razões ou melhor dizendo por uma de que deriva a segunda. A primeira razão é simples: chama-se síndroma do eu não estava lá. A segunda chama-se Costa quer ser Presidente da República. Confuso? Não. Delirante? Nem pensar.

Eu explico: lembram-se do mandato de António José Seguro à frente do PS? Eu lembro-me e lembro-me sobretudo de como de cada vez que se referiam as consequências não apenas políticas e financeiras dos governos Sócrates mas e sobretudo os danos éticos e morais que tal figura trouxera à sociedade portuguesa, a classe política em geral e os dirigentes socialistas em particular faziam o ar constrangido de quem assistira a uma lamentável falta de educação. Falar dos licenciamentos da Cova da Beira e Freeport era como palitar os dentes à mesa. Referir os aumentos à função pública à beira da crise sem esquecer o cheque-bebé estava ao nível de trautear Quim Barreiros em São Carlos. E questionar a espantosa vida no apartamento de Paris de um homem que dizia e diz viver de empréstimos transformou-se num acto social revelador de um mau gosto profundíssimo!

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Afinal não se sabia, não era público e notório que António José Seguro estivera na oposição a José Sócrates? Para quê então invocar o nome do antigo primeiro-ministro, invocação essa que para mais era um embaraço para Seguro e seus apoiantes que viviam mais ou menos sitiados pelos socráticos no Largo do Rato?

E andámos nisto meses: Seguro era uma pessoa séria e estimável que já tinha problemas que lhe chegassem com a gente de Sócrates. Para quê complicar ainda mais a sua já tão precária situação confrontando-o com o tempo de Sócrates o que o obrigaria a dizer que não, mas sim, talvez…? Para mais dissesse Seguro o que dissesse despertaria sempre a ira dos históricos socialistas que não viam chegado o dia de mandar Seguro para o elevador do Altis donde saíra num dia que eles queriam esquecer.

Tenho a certeza de que o mesmo acontecerá quando Costa for substituído por algum dos raros que agora se lhe opõem. E sejamos sinceros, como se podem pedir responsabilidades a Francisco Assis pelos acordos do PS com o PCP e o BE que estão a levar a um assalto ao aparelho de Estado pelos grupos corporativos afectos à Inter? Ou pela destruição do trabalho efectuado no ministério da Educação que levou a que o abandono escolar em Portugal baixasse de forma notável?

E claro que à semelhança do que aconteceu com Seguro também esse líder crítico de Costa será devidamente afastado para dar lugar a um candidato de perfil ganhador que mesmo que não ganhe nada, como aconteceu com Costa, é um vencedor, um ganhador, um negociador…

Como se percebe, para o PS os ganhos com esta alternância entre aqueles que considera os seus verdadeiros líderes e os críticos são enormes: a cada novo ciclo de liderança o partido faz de conta que não tem passado e fica livre para uma vez no poder repetir a receita e o estilo. (Claro que nos outros partidos sucede o mesmo com a substantiva diferença de que os outros partidos não se sacrificam tão cegamente às circunstâncias dos seus líderes como o PS fez com Sócrates e está agora a fazer com Costa). Mas para os ex-líderes socialistas esta ciclotimia ainda é mais interessante: Sócrates só não foi o candidato da esquerda a Belém porque apesar de tudo ao PCP causaria alguma perturbação apoiar um candidato que pode acabar preso por não ser capaz de explicar as semanadas milionárias. Ao PS não creio que nada o perturbe nesta fase das coisas e o BE faz o que tiver de fazer.

Quanto a António Costa, não duvido que uma candidatura à Presidência da República é a saída que perspectiva como mais airosa para esta aventura em que meteu o PS e o país: com a geringonça em corrida alucinada para um outro resgate, saltar a tempo de ainda regenerar a imagem para poder vir a entrar na próxima corrida a Belém é uma estratégia que Costa não enjeitará. Para mais Marcelo até deu a entender que talvez faça apenas um mandato.

Logo António Costa tem de manter-se líder do PS. Essa é a nossa única garantia de que encerrado este funesto capítulo o PS vai ser confrontado com o rumo que impôs ao país. Se assim não for daqui a poucos anos teremos Assis afastado de vez e um qualquer Galamba ou Pedro Nuno Santos a declarar que até vão tremer as pernas de quem não acreditar que eles vão ganhar as eleições.