Numa altura em que se realiza em Lisboa a Conferência dos Oceanos, sonhei, ao ouvir os nossos governantes preocupados com o ambiente, que gostaria de os poder interpelar sobre o nosso País, e questionar sobre medidas simples e rentáveis, que, embora não requeiram investimento financeiro, não são implementadas.
Sou médico e conheço bem a prática hospitalar diária, baseada numa cultura despreocupada com o ambiente. Porque os cuidados de saúde contribuem para as alterações climáticas, gostaria de lhe fazer estas cinco perguntas, e acrescento a resposta que o conhecimento moderno permite, sem fundamentalismo ou negacionismo.
1. Os cuidados de saúde têm impacto no ambiente?
Sim, eles são responsáveis por 4,8% das 67 megatoneladas de gases com efeito de estufa que Portugal produz.
2. Esse impacto é grave para a saúde?
Muito. Os gases resultantes dos cuidados de saúde provocam anualmente entre 6000 e 10000 DALYs (= mortalidade precoce + incapacidades).
3. É possível reduzir esse impacto sem comprometer a qualidade dos cuidados?
Sim, podemos reduzir cerca de 30 %, conforme a experiência de países mais desenvolvidos. Os benefícios dessa redução são para a nossa saúde, para o ambiente e financeiros.
4. Quanto temos de pagar para isso?
Todas as ações proporcionam poupança financeira significativa, exceto se for necessário investir em sistemas elétricos; neste caso recupera-se o capital em cerca de três anos. Com as restantes iniciativas o SNS poderia poupar 60 milhões euros/ano.
5. Como podemos contribuir para esse objetivo?
Promovendo uma mudança cultural e alterando enquadramentos legislativos, manifestamente ultrapassados, alguns de 1996. A OMS já emitiu várias recomendações que confirmam estas minhas afirmações.
Obrigado, Senhor Primeiro Ministro, espero que as minhas respostas o ajudem a tomar decisões.