De tempo a tempo lá ouvimos alguns políticos e personalidades a falar de uma necessária mudança na Europa, aos níveis político, económico e social. Curiosamente tal só acontece, e com grande exaltação, em momentos de vitórias de movimentos radicais e em determinados países.

Ora é pela vitória do Syriza na Grécia, nomeadamente aquando do Referendo nesse país, ou pelo resultado do Podemos nas europeias na nossa vizinha Espanha. Quase que diziam o mesmo da Frente Nacional em França, mas o politicamente correcto tem as suas conveniências. Ideológicas, pois claro. Para outros, onde me incluo, não há extremismo que encante, nem radicalismo que convença.

Mas o resultado do referendo na Grécia levou alguns a afirmar que a Mudança na Europa está a acontecer. E eu confirmo e subscrevo. Mas não é pelos acontecimentos na Grécia. Nem pelo referendo, nem pela vitória do Syriza em Janeiro de 2015.

Por muito que custe a alguns, a mudança na Europa não está a ser feita nos extremos. É ao centro, na moderação e bom senso, através de posições e programas sociais liberais. País a país e nas instituições e fóruns europeus. No Parlamento, na Comissão e no Conselho Europeus.

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O duopólio entre o Partido Popular Europeu – PPE e o Partido Socialista Europeu – PES, acabou. Mas não nos extremos. Com serenidade e moderação, sem populismos e demagogias, há uma família europeia em crescendo e a afirmar-se, ao centro, com uma visão liberal e defensora dos genuínos valores europeus. A Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa – ALDE.

O acrónimo ALDE é já incontornável na política europeia. Não apenas no seu léxico e não apenas no Parlamento Europeu. No Conselho Europeu são já 7 os Primeiros-ministros que partilham os valores e princípios do ALDE. O PPE conta com 10 e o PES com 8.

E o impacto não é apenas ao nível das instituições e políticas europeias. O mais relevante e o que permite esta união são os eleitores que em diversos países reconhecem nos valores liberais e nas posições moderadas a solução para a crise que alastra por toda a europa.

Nos últimos meses a Dinamarca (re)elegeu Lars Løkke Rasmussen para seu Primeiro-ministro, que se junta assim a Xavier Bettel (Luxemburgo), Miro Cerar (Eslovénia), Charles Michel (Bélgica), Taavi Rõivas (Estónia), Mark Rutte (Holanda) e Juha Sipilä (Finlândia), no Conselho Europeu.

Na Comissão Europeia são já 5 os liberais. E no Parlamento Europeu o grupo ALDE conta com 80 eurodeputados, um grupo liderado por Guy Verhofstadt, o ex-primeiro-ministro belga entre 1999 e 2008, que tem sido o garante da moderação nos debates Europeus. Ficou célebre a sua intervenção sobre a Grécia, na visita de Tsipras ao hemiciclo europeu, mas destaco outras, nomeadamente a bem recente posição sobre migrações.

É inevitável uma análise geopolítica. Sete países do norte e leste europeus. Nada a sul. Muitos dos que clamam por mudança na europa fazem-no com um discurso hostil para com o norte e, afinal, eis que é exactamente nessa geografia que a mudança está a ser feita e sentida.

E a sul? Chegará esta mudança? Chegará o momento para os eleitores darem a sua confiança e reconhecimento a projectos políticos liberais e moderados? Acredito que sim, mas para isso é necessário que eles surjam, que se apresentem e afirmem. Que agreguem pessoas com vontade. O “palco” ser-lhes-á aberto. Em Espanha o Ciudadanos tem feito um caminho sereno e com resultados muito interessantes. Na Grécia o novel To Potami estreou-se com um simpático quarto lugar. Em Itália com as mutações permanentes nunca se sabe o que pode acontecer. Por cá o MPT – Partido da Terra integra a família ALDE.

Portugal dificilmente irá enveredar por opções extremistas, pelo que cenários syrizescos parecem-me uma impossibilidade. O bipartidarismo incontornavelmente perderá a sua primazia, à imagem do que se aponta suceder em Espanha. É tudo uma questão de tempo, apenas condicionada pelo momento em que um grupo de cidadãos assuma o desafio de iniciar uma maratona apresentando um projecto credível, inclusivo, distinto e moderado. Posicionado ao Centro, com uma visão liberal da sociedade.

Mais do que a oportunidade existir, é uma necessidade. Em outras geografias da Europa é já uma realidade, efectiva. A solução, a evolução, faz-se ao Centro.