Uns dias em Bruxelas foram o suficiente para perceber que a Europa está mergulhada num paradoxo trágico: as elites querem manter uma ideologia cosmopolita e a hospitaleira (no sentido kantiano de termo) e a população quer uma Europa com menos migrantes, que perceciona como a causa de todos os seus novos medos e inseguranças. Se a Comissão Europeia não tenta aplacar as ansiedades dos cidadãos, vai afastar-se cada vez mais dos mesmos – e as consequências são imprevisíveis. Se tenta, esbarra contra um muro de críticas das elites. A mais perigosa é a de que a agenda da extrema-direita está a apoderar-se do pensamento do centro moderado.

Mas será exatamente assim? Importa refletir sobre o novo e controverso portfolio da Comissão Europeia – uma das bandeiras de Ursula von der Leyen – a que se chamou “Protegendo a nossa forma de vida Europeia”. É uma versão europeia atualizada da ideia que surgiu no início da Guerra Fria que declarava que os Estados Unidos tinham que defender a “American way of life” contra tentativas disruptivas da União Soviética de subverter o espírito da democracia americana. Assim é legítima a pergunta: a Europa tem a sua “forma de vida” ameaçada?

No seu manifesto pré-nomeação, Ursula von der Leyen explica que defender a forma de vida europeia significa, essencialmente três coisas: proteger o estado de direito; reestruturar as políticas de asilo e a migração; e reforçar a segurança internacional. Ora, estas políticas pressupõem que os agentes dos quais a Europa tem de se proteger são os partidos e movimentos políticos que não partilham os valores europeus, a imigração desregulada e as potências internacionais. Cada um dos temas se justifica e merece consideração, mas este artigo concentra-se nas questões migratórias.

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