Nada dá uma sensação de velocidade como uma boa aceleração. Algo como passar de 40 para 120 km/h em 6 segundos. Andar a 120, numa autoestrada deserta, dá ao fim de alguns minutos uma sensação de lentidão insuportável, especialmente às brigadas de trânsito e aos srs. ministros do pelouro. Mesmo 1.000 km/h, dentro de num avião, é como se estivéssemos parados numa sala apertada. De modo semelhante, uma desaceleração brusca, de 120 para 40, dá-nos uma perceção de paragem mais impactante do que uma condução estável a 30 km/h.

Algo de semelhante se passa na nossa economia. O PIB per capita, ou o nível dos nossos salários, podem ser altíssimos (não são). Mas se não estiverem a crescer, ou se não tivermos espectativas que vão começar a crescer em breve, a sensação que temos é de empobrecimento. Sensação que é acentuada devido à pobreza1 e riqueza2 serem percecionadas relativamente ao que os outros ganham ou têm. Nos anos 90, éramos otimistas, porque sentíamos uma aceleração e uma aproximação aos níveis de rendimento “europeus”. Agora, ao vermos a Roménia e a Bulgária ultrapassar-nos pela direita, sentimo-nos parados (e, de facto, é como se estivéssemos), o que é doloroso. E que leva alguns ao desespero, outros ao fatalismo, e aos mais jovens, aos putos com menos de 40 anos, a procurar alternativas lá fora.

Mas o cenário é mais negro, porque não se restringe à economia. Por volta dos anos 90 sentíamos, se calhar equivocadamente, que as nossas instituições estavam a melhorar. A administração pública, ou pelo menos parte dela, parecia estar a se tornar cada vez mais profissional e a funcionar melhor, a revisão constitucional ia no sentido de diminuir a pegada estatal na economia, as privatizações perspetivavam o fim do clientelismo & ineficiência e mais concorrência, os ministros aparentavam ser mais competentes, e a probidade e estabilidade mental dos políticos pareciam estar a melhorar. E agora qual é a nossa sensação?

Os srs. engs. Costa & Marcelo asseguram-nos que estamos a fazer progresso3 na economia e institucionalmente. Mas olhando pela janela, não será que parece que estamos a andar para trás? Ou será que estamos assentados em cadeiras com as costas voltadas para progresso que, em democracia, o nosso governo4 quer para nós?

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U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue de acordo com sua vi suaque sponte. #EncuantoNusDeixam

  1. Pobreza: a mãe do engenho e várias outras virtudes entre as quais se conta a fé em reformadores e revolucionários que prometem um mundo sem ela e sem as suas virtudes.
  2. Riqueza: um roubo, na definição de qualquer ladrão falhado; uma injustiça, na conceção de qualquer warxista que nunca trabalhou.
  3. Progresso: processo de degradação ética, social e económica de indivíduos e de grupos obtido através de políticas governamentais que infantilizam & empobrecem o povo; é avaliado pela aproximação ao socialismo.
  4. Governo: divindade laica que, tal como Cronos na mitologia grega, devora os seus filhos; é constituído por aspirantes a cargos na Comissão Europeia.

Retrato do XXIII governo constitucional por Francisco Goya