A pandemia alterou o quotidiano de cada um de nós.

Deixámos de poder sair de casa de uma forma livre e espontânea. A máscara passou a ser uma peça normal de roupa, que colocamos de manhã. As filas com distanciamento social de pelo menos dois metros, passaram a fazer parte da nossa vida à entrada de supermercados, centro comerciais e farmácias. Os restaurantes, no seu interior e nas esplanadas, tiveram de reduzir o número de mesas e cadeiras para manter a distância entre os clientes.

Nos jardins públicos, as pessoas ficaram proibidas de se sentarem nos bancos. Esta limitação passou a ser um problema para os casais namoriscarem e os velhos poderem descansar durante o passeio pelos jardins para poderem desfrutar do ambiente calmo e colorido pelas flores. Os cinemas fechados obrigaram os frequentadores do ecrã gigante a substitui-lo pela televisão e pelo iPad. O sabor das pipocas e o respectivo refrigerante a acompanhar, o som e a emoção que nos faz ficar pregados ao ecrã não são nem nunca serão comparáveis ao espaço e ambiente de um cinema.

Com os ginásios fechados, os sócios tiveram de inventar locais para a prática da sua atividade física. Alguns até investiram em aparelhos para terem em casa e poderem manter a forma e cultura física. A total ausência de público nos campos de futebol e de outros desportos, por sinal, o principal estímulo para o desportista profissional ou mesmo amador, tem sido um desafio para os seus intervenientes.

As escolas e as universidades fechadas, com os alunos confinados em casa e a terem aulas online, com total empenho por parte dos professores na execução do plano de trabalho, tem sido uma experiência conjunta interessante mas, acima de tudo, desafiante.

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Com os infantários fechados e com os seus pequenos clientes presos em casa, muitas vezes em pequenos espaços, os pais foram obrigados a serem inventores de jogos e histórias de princesas, fadas ou superhomens, tão apetecíveis naquela faixa etária.

Este ano invulgar e atípico da realidade diária de qualquer família, faz sorrir a alma e ter a sensação estranha de “dejá vu”, quando vemos crianças a correr atrás de uma bola ou a tentarem apanhar um colega mais veloz no recreio das escolas. Vermos as pequenas formiguinhas ou joaninhas no baloiço ou no escorrega do infantário, felizes e aos gritos histéricos por poderem voltar ao seu dia normal de escola, é deveras um momento apetecível.

Ver o sorriso das pessoas mais velhas sentadas num banco de jardim, a tomar café numa esplanada, a falar dos jogos de futebol e dos golos falhados pelos jogadores do seu clube do coração, ou do erro táctico do treinador, vão passar a ser de novo o pão nosso de cada dia.

Todos estes momentos e cenários faziam parte das nossas vidas, sem muitas vezes darmos o verdadeiro valor à liberdade dos nossos movimentos.

A pandemia suspendeu a nossa vida de uma forma abrupta e destruiu os nossos sonhos em muitas ocasiões. Esta paragem forçada fez-nos pensar quão frágil é o ser humano nas mãos de um vírus invisível e de tamanho nanométrico.

Os filmes de Hollywood sobre pandemias, que muitos amantes do cinema viram e, quiçá, pensaram tratar-se apenas de ficção, tornaram-se realidade e, por mais que custe admitir, o mundo real ainda conseguiu ser muito pior do que o imaginário.

Mortes, famílias destruídas, lares desfeitos, caixões insuficientes, funerais sem família, filhos sem pais, economias em agonia, sociedades a cair em desgraça são alguns dos grandes males que o SARS-CoV2 conseguiu criar de uma forma cruel e irreversível.

Provámos o veneno do vírus, é altura e tempo de termos aprendido a lição e não regressarmos de novo à estaca zero. O desconfinamento a conta-gotas é um mal necessário até termos a população quase toda vacinada. Não podemos voltar a facilitar. Nem da parte da Direção Geral de Saúde, do Governo ou da população. Todos erraram, mas viver do passado não é solução.

Todos nós vamos querer voltar a ver pessoas nos cafés, crianças a brincar nos jardins e nos infantários, mulheres loucas por compras nos centros comerciais, estádios cheios de fãs a aplaudirem as suas equipas e jogadores, e voltar a ter todas as outras vivências que na era pré-pandemia faziam parte das nossas vidas.

Andar com máscara pode ter sido difícil de aceitar para muitas pessoas, mas há um pormenor que temos de admitir. Tivemos muito menos casos de infeção respiratória! Basta olharmos para o número de doentes que invadiam os serviços de urgência de Norte ao Sul do país antes da era de uso obrigatório de máscara. O que estamos, neste momento, a observar nas urgências tem sido uma redução significativa de procura por parte de doentes. Se há poucas infeções respiratórias, outras doenças crónicas que descompensam depois desta infeção também vão diminuir de incidência.

O problema maior desta pandemia foi termos tido na área da saúde hospitalar uma concentração maior no atendimento e tratamento dos doentes Covid, que inundaram os internamentos e os cuidados intensivos em todo o país.

Por outro lado, como as pessoas estavam confinadas e tinham receio de procurar ajuda, quer nos hospitais, quer nos centros de saúde, muitos utentes deixaram que os seus sintomas clínicos se arrastassem por mais tempo do que o habitual. Este atraso foi responsável pelo diagnóstico tardio de várias doenças, nomeadamente oncológicas. Os diversos estádios da doença são cruciais para o tipo de abordagem terapêutica, bem como para o seu prognóstico.

Neste momento, em que o número de internamentos e de novos casos por Covid reduziu substancialmente, e os hospitais e os profissionais de saúde conseguiram sair de uma situação de burnout iminente, temos de contribuir para que este panorama dantesco não volte a acontecer. E que os nossos utentes não Covid tenham agora coragem para procurar os médicos sempre que assim se justificar, não atrasando o diagnóstico nem o tratamento de qualquer sintoma ou sinal que possa surgir.

É tempo de Governo e cidadãos trabalharem em conjunto para construir e preparar o país para a fase pós-Covid.

Com coragem e determinação, juntos, vamos conseguir dar a volta e recuperar este país à beira-mar plantado para um nível igual ou superior nas áreas da saúde e da educação, não esquecendo nunca o esforço que vamos ter de fazer para ressuscitar a nossa economia e salvar a sociedade que a pandemia deixou moribundas.