Em 2020, tínhamos em Portugal 4,4 milhões de portugueses no limiar de pobreza e 1,9 milhões de portugueses no limiar de pobreza já após transferências sociais.

O trabalho desenvolvido pela Pordata permite “transformar em números uma sociedade feita de pessoas”, fazendo o retrato da sociedade portuguesa. E são estes números que ativam alertas que nos levam a debates e reflexões essenciais para o bom desenvolvimento de uma sociedade.

Agora, os sinos de alerta soaram: quase metade da população portuguesa é pobre e muitos continuam a passar fome e a viver em condições de miséria, mesmo depois de beneficiarem do apoio do estado.

Será através da redistribuição de riqueza que fazemos face à pobreza?

Concentrar esforços nas transferências sociais é um mecanismo limitado e temporário, com consequências perversas, que perpetuam a pobreza, a dependência de uma sociedade em relação ao Estado, que condenam uma sociedade à mediocridade. Embora seja bem-intencionado, consome recursos e os resultados são limitados, atua apenas como um paliativo, atenua a dor, mas mantém a miséria.

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Enquanto não apostarmos no desenvolvimento económico e na criação de riqueza, enquanto não criarmos medidas que ajudem as pessoas a tornarem-se autossuficientes e enquanto continuarmos a ser um país pobre, não nos espera melhor retrato.

Se relacionarmos a taxa de pobreza e exclusão social com o rendimento per capita dos países da União Europeia mais Reino Unido, Suíça, Noruega e Islândia, a relação que encontramos está patente no seguinte gráfico. São dados de 2010 a 2020 para 37 países da Europa, tendo Eurostat como fonte.

Nota: coeficiente de correlação de 63% e regressão estatisticamente significativa, com p-value de F-Snedcor de 0,00.

Como podemos ver, países mais ricos, com um maior rendimento per capita, apresentam menor taxa de pobreza e exclusão social. O caminho para erradicar a pobreza não é a política de “mão estendida”, mas sim a criação de riqueza que permitirá, posteriormente, acudir os mais carenciados.

Cabe ao Estado proteger os mais vulneráveis e criar mecanismos que tenham como objetivo dar liberdade, autonomia e condições para que os portugueses possam criar riqueza. Não é o governo que gera riqueza, mas sim as pessoas e as empresas.

E são as políticas liberais que trazem instrumentos para a criação de riqueza.

Políticas como a redução do peso do Estado e da sua interferência na economia, a redução da carga fiscal – que muitas vezes estrangula financeiramente quer o indivíduo quer as empresas – ou mesmo políticas que valorizem o indivíduo, que permitam que cada um dirija a sua própria vida (rejeitando o paternalismo político em que vivemos) são ferramentas que já demonstraram serem eficazes em vários países desenvolvidos, como a Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo ou Dinamarca.

Temos que olhar para os portugueses como pessoas capazes, pessoas que não baixam os braços perante as dificuldades, como pessoas que procuram soluções, por mais difíceis que elas sejam de encontrar. Temos a nossa vasta história, que demonstra o quanto os portugueses são resilientes. Em tempos, virámo-nos para o mundo em busca de melhor fado, mas hoje a solução está cá dentro; para isso, temos de lutar por políticas diferentes, temos de lutar por políticas mais liberais.

Temos que mudar o nosso rumo, não estamos condenados a ser pobres, não estamos condenados a viver num país sem oportunidades, que obriga os jovens a lutar por uma vida melhor, longe dos que lhe são mais queridos, longe da sua família.

Recuso-me a aceitar que estejamos condenados.