Num momento de incertezas, prevenir e preparar o futuro é o grande trunfo que temos à nossa disposição, razão pela qual preparar a saúde, ainda neste período de verão, deve ser assumido como uma prioridade.

Nos últimos meses, assistimos com preocupação a uma redução acentuada da procura de cuidados de saúde, nomeadamente de consultas e exames de diagnóstico. Esta evidência permite-nos inferir que, com elevada probabilidade, terá existido atraso frequente do diagnóstico e tratamento de muitas patologias, o que poderá ter comportado um risco acrescido na ocorrência de eventos subsequentes adversos, graves, e levado a menor probabilidade do controlo da doença. Muitos portugueses, por receios associados à Covid-19, continuam a deixar os cuidados de saúde para segundo plano, não tendo ainda iniciado a sua preparação para o Inverno desafiante que aí vem.

O adiamento de exames mamários e endoscópicos gastroenterológicos, por exemplo, poderá atrasar o diagnóstico de patologia oncológica (mama, colon, reto, estômago…), cujo prognóstico favorável depende grandemente da precocidade do diagnóstico. O adiamento de eletrocardiogramas, ecocardiogramas, ou registos de Holter 24h pode atrasar o diagnóstico de arritmias (como a fibrilhação auricular), levando à não introdução atempada de terapêutica anticoagulante que reduz, significativamente, o risco de AVC isquémico subsequente.

O atraso na realização de uma prova de esforço de rotina pode ocultar a presença de doença coronária, que pode traduzir-se em enfarte do miocárdio ou, mesmo, evolução evitável para insuficiência cardíaca. Um adiamento na realização de provas de função respiratória pode protelar o adequado ajuste de terapêutica broncodilatadora adequada e necessária para diminuir o risco das exacerbações de uma doença pulmonar crónica no inverno.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Estes exemplos sublinham que o tempo é um fator crucial para o sucesso no tratamento dos mais diversos problemas de saúde e que o atraso na realização de exames, intervenções e tratamentos acarreta graves consequências.  Teme-se um aumento significativo do número de agudizações e de casos de doença crónica não controlada, com repercussão negativa esperada na morbilidade e mortalidade associadas a estas doenças, confirmando a tendência dos últimos meses, de acordo com dados do Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade.

Importa lembrar que a saúde não pode ser adiada e que a prevenção, as idas regulares ao médico, a toma da vacina contra a gripe e a realização de exames, rotinas que ao longo do tempo nos permitiram conquistar anos de vida saudável, são também aquelas que hoje, em que nos preparamos para meses de inverno exigentes, nos podem ajudar a salvar vidas e a reduzir desfechos desfavoráveis.

Caminhamos rapidamente para o início do outono-inverno que, no atual contexto de pandemia Covid-19, se perspetiva particularmente desafiante. Este ano, a par da gestão dos desafios habituais da época fria, decorrentes da sazonalidade das infecções respiratórias causadas pelo vírus da gripe e outros agentes respiratórios, há ainda que gerir, na ausência de uma vacina ou terapêutica específica contra a Covid-19, o peso acrescido das exigências impostas pela pandemia e antecipação de um eventual aumento da atividade epidémica.

Por tudo isto, apresse-se, já no verão, a preparar o inverno, porque esta é a melhor forma de evitar preocupações nos próximos meses.