A pandemia do coronavírus que alastrou a todo o mundo terá consequências a todos os níveis, desde a economia à saúde. A palavra recessão volta a fazer parte do discurso político e económico e sucedem-se os anúncios sobre o lançamento de estímulos financeiros para enfrentar uma crise inesperada, mas que deixará marcas. Será necessário um esforço acrescido de empresas, sindicatos, governos, reguladores e outros stakeholders relevantes para pôr a economia a funcionar.
Enquanto a economia não volta a funcionar em pleno, há que tomar medidas excecionais para lidar com a situação. É isso que estão a fazer os Governos, os bancos centrais e as instituições internacionais, mas é preciso que todo esse “arsenal” chegue à economia real, onde as empresas são fundamentais. A responsabilidade social faz parte do ADN de empresas responsáveis e que servem as comunidades onde estão inseridas e nestas situações isso tem de ser visível e eficaz.
Essa responsabilidade social também se revela na forma como, nesta crise, as empresas mantêm em dia os compromissos com os seus trabalhadores e respetivas famílias. Nesta altura, a prioridade máxima é pagar salários a tempo e horas e procurar assegurar serviços essenciais dentro dos condicionalismos impostos – e bem – pelas autoridades de saúde. Ou seja, o pagamento de salários – dado como adquirido em situações normais de operação – é hoje uma responsabilidade social das empresas.
Veja-se o caso prático da Transdev, uma empresa privada de transporte público de passageiros que emprega 2.000 colaboradores e transporta, em condições normais, 120.000 passageiros por dia em Portugal. Devido à pandemia a atividade foi fortemente afetada. A quebra das receitas é já superior a 90% e os custos permanecem quase iguais. Salários, veículos, alugueres e seguros continuam a ser pagos.
Além do dever que temos, enquanto empresa, de garantir o emprego devemos também honrar os nossos compromissos sob pena de criar uma reação em cadeia e levar os nossos fornecedores e prestadores de serviços a uma queda de receita similar à nossa. Para garantir tudo isto precisamos de ter instrumentos financeiros que permitam enfrentar esta situação de emergência. O Estado tem aqui um papel relevante e se, em situações normais, as empresas conseguem acomodar atrasos nos pagamentos por serviços já prestados, agora tudo muda.
Em tempos normais, o período de pagamento é superior a 6 meses. O que se pede é que este prazo seja reduzido para 15 dias. Com esta medida a Transdev e, estou certo, tantas outras empresas, poderiam gerir a sua tesouraria, compensando a perda de receita e garantindo o pagamento dos salários aos seus colaboradores – no caso da Transdev até junho. Não estamos a pedir nada de excecional, apenas que sejam regularizados os pagamentos dos serviços prestados antes desta crise.
E precisamos de regras iguais para os vários operadores de transporte do nosso país, em matéria de reequilibrar a equação financeira das concessões no sector dos transportes públicos privados de passageiros. O Covid-19 afeta todos, não conhece fronteiras nem negócios, pelo que as medidas já prometidas para a Área Metropolitana do Porto e Área Metropolitana de Lisboa devem ser as mesmas em todas as regiões do país.
A situação exige uma resposta rápida, justa e equitativa. Não estamos a falar de medidas orientadas para a rentabilidade. Estamos a falar de medidas com o único objetivo de manter, no caso da Transdev, 2.000 postos de trabalho em Portugal e evitar problemas graves nas empresas privadas do sector dos transportes públicos de passageiros.
É a nossa responsabilidade, é o nosso dever para com os nossos colaboradores.