O dia 24 de Março deste ano mereceu ser celebrado, nesse dia passámos a viver mais tempo em liberdade do que em ditadura. No dia 25 de Abril de há 48 anos os portugueses conquistaram o direito a dizerem e a escreverem o que pensam sem medo, a puderem reunir-se sem receio dos “bufos” e o direito a votar naquela que pensam ser a melhor forma de governar o país. Mas a revolução foi também feita para que todos tivessem mais e melhores oportunidades, para que todos pudéssemos viver melhor, no final, para que Portugal fosse um país mais rico e onde todos pudessem beneficiar dessa riqueza, para que existisse liberdade de oportunidades.

Com a revolução de 25 de Abril de 1974, a sociedade portuguesa mudou. Para termos uma ideia, a esperança média de vida à nascença passou de 67 anos em 1970 para cerca de 79 anos em 2008, a mortalidade infantil caiu para um dos níveis mais baixos do mundo, a formação escolar conheceu um enorme aumento: o melhor exemplo é a subida de 9% para 60% de alunos que terminam o ensino secundário. Neste período em liberdade, Portugal mudou muito, mas convém contar a história toda.

O livro de Luciano Amaral A economia portuguesa – As últimas décadas ajuda-nos a perceber o que foi o período do Estado Novo no que ao crescimento económico diz respeito: “os últimos trinta anos do regime autoritário corresponderam ao melhor período de crescimento económico de toda a história de Portugal” e mais à frente acrescenta: “O notável percurso de crescimento entre 1950 e 1973 interrompeu-se abruptamente em 1974 e 1975: o crescimento do produto per capita abrandou para 0.3% em 1974 e caiu -9% em 1975 e -2% em 1976”. Sejamos claros, o período pós-revolucionário de nacionalizações selvagens marcaram e continuam a marcar o país. Naquele tempo Portugal era um dos países ocidentais com um dos maiores sectores empresariais públicos do mundo. Sectores como a agricultura, banca, seguros, siderurgia, cimentos, celulose, produtos químicos saíram do sector privado para entrarem na esfera pública, fazendo com que o sector empresarial do Estado gerasse 20% a 25% do PIB e empregasse cerca de 8% da mão de obra. Todos estes dados podem ser consultados no livro de Luciano Amaral acima referido.

Agora que estamos perto de comemorar 50 anos do 25 de Abril convém fazer uma reflexão profunda do que falta fazer. Se é verdade que no regime de Salazar existiam empresas privadas encostadas ao Estado e que beneficiavam das suas mordomias e favores, não é menos verdade que hoje existem outras tantas. Se é verdade que antes do 25 Abril só os filhos dos ricos chegavam a concluir o ensino secundário, não é menos verdade que hoje os mais pobres apenas têm acesso a escolas públicas carentes de professores e onde a violência é o dia-a-dia de muitas delas. Se é verdade que no Estado Novo o acesso à saúde era precário, não é menos verdade que hoje quem não tem ADSE ou um seguro de saúde está sujeito a esperar anos por uma consulta hospitalar ou cirurgia ou a estar às seis horas da manhã à porta de um centro de saúde para conseguir uma consulta.

Se é verdade que no tempo do Estado Novo a emigração era o escape daqueles que procuravam uma vida melhor e pretendiam fugir da guerra, não é menos verdade que a emigração continua a ser vergonhosamente elevada, agora até entre jovens muito qualificados, que partem deixando Portugal ainda mais pobre.

Falta uma noção de futuro a Portugal e falta ambição. O nosso atraso crónico não é uma fatalidade, assim saibam os protagonistas políticos estar à altura dos acontecimentos.

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