“Não nos esqueçamos que tanto na cultura familiar quanto na social, os idosos são como as raízes da árvore: eles têm toda a história ali, e os jovens são como flores e frutos. Se o suco não vier das raízes, os jovens nunca poderão florescer.”
Papa Francisco

Esta é uma história que começa há perto de 400 mil anos: o aparecimento do Homo sapiens. Uma história de superação, de quando por exemplo há 70 mil anos, com a super-erupção do Toba, esteve cara a cara com a extinção, talvez com menos de 1000 indivíduos. Todavia, com a arte e engenho que nos caracterizam, a nossa espécie prevaleceu, e os descendentes dessas mil pessoas chagaram aos 8 mil milhões!

Durante a esmagadora maioria desta história vivemos sem combustíveis fósseis? É verdade. Como também é verdade que vivemos mal: ainda há relativamente pouco tempo, vidas marcadas pela fome e pelo esforço, pela doença, com elevada mortalidade infantil e esperança média de vida bastante baixa, expostos à fúria da natureza que sempre se fez sentir (espantem-se: furacões, cheias, incêndios, secas, tornados, vagas de frio e calor, etc., etc., não são exclusivas dos nossos dias).

Hoje, no auge do desenvolvimento, nos tempos em que numa parte do mundo os pais não deixam os filhos passar fome ou frio, cuidam das suas saúde, educação, conforto, compram-lhes o que estes vão pedindo… são crucificados pelos crentes da nova religião ambientalista: uns demónios que estão a destrui-lhes o futuro dando-lhes o que a sua geração não teve, muito menos a geração da sardinha para três que a antecedeu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Culpados, portanto, segundo jovens se manifestam por cá e por outros lados, de forma tão infantil – colados, com sopas, bloqueando escolas, etc. – como infantis são as suas exigências. É normal: são jovens, têm uma visão parcial mas apaixonada, preocupada mas imatura, do mundo que os rodeia e onde começam a dar os primeiros passos por si mesmos. O mal? O mal está nos adultos – políticos, jornalistas, etc. – que deles se aproveitam para ficar bem na fotografia, dos que os inspiram na extrema-esquerda aos do governo, que se dizem solidários. Está em levar demasiado a sério (ou a fingir que se leva a sério) algumas destas patetices, em vez de uma voz de contextualização, de consensualização, e até de tranquilização.

No caso do Sr. Ministro do Ambiente, que saúda as manifestações (pudera, não é a Duarte Cordeiro mas a António Costa Silva que exigem a demissão), como lhes explicaria então que com as faturas a subir na luz ou no gás, abriu a porta a um regresso a mercados regulados? Não devia subir o preço mais ainda? Ou com os combustíveis? Para quê vouchers? Não era de carregar ainda mais impostos para subir ainda mais? Ou como quem fala da bilha solidária: que é isso de dar 10 euros por bilha, em vez de subir 10?

Talvez explicando que as preocupações e os problemas são muitos e estão todos interligados. Explicando que se hoje para muita gente, incluindo seus pais, a habitação é cara e os ordenados são curtos para as despesas, mudanças radicais atirariam muito mais gente para a miséria. E que nessa altura, em vez de preocupados com o clima, talvez a preocupação fosse com os calos das mãos após uma jornada a cavar batatas. E aí sim, contribuíam com o exemplo para a luta climática: pobres e esfomeados não andavam o dia todo de telemóvel ligado! Pelo que lhes faria muito bem, como diz o Papa Francisco, dialogar com os mais idosos, que estes ainda lhes saberão contar sobre a dureza de outros tempos.

O drama maior é que, levando-os a sério, voltaríamos para a idade da pedra mas nem isso assegurava a resolução dos problemas: é o desenvolvimento tecnológico que nos pode salvar, e isso carece de cientistas e engenheiros, universidades e investidores, e, claro, consumidores… Do mesmo modo, tudo o que seja adaptação – sair de junto do mar que vai subir, sair do caminho dos furacões, dos leitos de cheia, etc., – não se faz de borla. Isto é, a resolução para os problemas, só economias pujantes o podem conseguir.

Destruir a economia é destruir o caminho da salvação. É suicídio hoje para evitar a morte no futuro. Que os jovens não compreendam? Lá chegarão. Já alguns adultos? Ao menos digam-lhes – aos jovens que saúdam – que deitar comida fora com tanta gente a passar fome é, no mínimo, feio, ou que o efeito de estufa na atmosfera se está completamente a marimbar para o número de casas de banho sem género…