De acordo com vários estudos, estima-se que 10 a 20% das crianças tenham um ou mais problemas de saúde mental, com alterações significativas na forma como aprendem, como se comportam ou lidam com as emoções, levando a um consequente aumento do sofrimento e impacto no dia-a-dia.

As perturbações com maior frequência na infância estão relacionadas com o comportamento, as dificuldades de aprendizagem, as perturbações da ansiedade e do humor. Ainda assim, existem algumas menos frequentes, mas em que são essenciais o diagnóstico precoce e a terapêutica específica, como é o caso das perturbações do espectro do autismo, ou das perturbações psicóticas.

Infelizmente, apenas uma pequena minoria recebe tratamento adequado, em parte devido ao estigma associado à procura de serviços de saúde mental. Mas o sofrimento das crianças precisa de resposta, pelo que o acesso a cuidados de saúde é fundamental.

Pode começar-se por abordar o tema com o pediatra ou o especialista em medicina geral e familiar – e esta primeira linha de atuação é essencial, seja na triagem, na avaliação, na intervenção ou na referenciação para as equipas de saúde mental da infância e adolescência.

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O contexto pandémico veio em muito agravar a saúde psicológica, com o aumento do número de casos de depressão e ansiedade, fazendo disparar o risco de tentativas de suicídio e autoagressão em crianças e adolescentes, segundo a Organização Mundial de Saúde. Na prática clínica, reconhecemos que os casos nos chegam num estado mais grave e que as famílias estão em maior sofrimento.

Quanto aos fatores de risco, sabemos que a exposição a episódios e experiências adversas durante a infância, bem como a presença de psicopatologia, nos pais ou cuidadores, aumenta a possibilidade de desenvolver problemas de saúde mental. E sabemos, também, que a presença de perturbações psiquiátricas na infância aumenta a probabilidade de desenvolver perturbações na idade adulta. Diria que a saúde mental das crianças é uma hipoteca para a futura saúde mental.

A deteção, a intervenção atempada e a aplicação de estratégias preventivas devem ser uma prioridade. Todos nós temos um papel fundamental em proporcionar experiências geradoras de bem-estar psicológico, indo ao encontro das necessidades emocionais das crianças.

A ideia de que é necessária uma aldeia inteira para se educar uma criança, também se aplica aqui. É necessária uma “aldeia inteira” para promover a saúde mental da criança, desde pais ou cuidadores, professores e educadores, pediatras e outros técnicos ou adultos significativos na vida da criança. Porque eles serão os adultos de amanhã. E porque a saúde mental não é uma moda. É saúde.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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